Um bocado de coisa aconteceu nos 16 meses em que Atlanta ficou fora do ar nos EUA. Nesse tempo, ganhou os Globos de Ouro de série e ator de comédia ou musical, e os Emmys de ator e direção, ambos para Donald Glover, seu criador. Com os prêmios, as críticas elogiando a ousadia de uma série difícil de colocar num escaninho e o sucesso de público, havia um problema e tanto no desenvolvimento da 2.ª temporada: a expectativa. “Tinha aquele sentimento de não decepcione!”, disse Glover, em entrevista ao jornal “O Estado de S. Paulo”, em Pasadena, na Califórnia. “Então, brincamos com isso nos novos episódios. Também tinha me esquecido que ninguém da série era superfamoso antes. Lidar com a fama também entrou na discussão.”
Atlanta é sobre Earn (Donald Glover), que desistiu da prestigiosa Universidade Princeton e ficou sem rumo na vida, seu primo Alfred (Brian Tyree Henry), um rapper que começou a fazer sucesso, e Darius (Lakeith Stanfield), o amigo viajante, mas surpreendentemente sábio. Earn, que está sem casa, é pai de uma filha com Van (Zazie Beetz), a ex-namorada com quem tem umas recaídas, e tornou-se empresário de Alfred, agora mais conhecido como Paper Boi. Na 2.ª temporada – exibida no Fox Premium 1 -, a fama apresenta seus perigos. “Chamamos esta temporada de Robbin, que é um fenômeno que acontece antes do Natal em Atlanta, quando várias casas são roubadas para garantir a ceia”, disse Bryan Tyree Henry.
Fazer o que ninguém espera parece ser o modus operandi de Glover, que em breve será visto como o jovem Lando Calrissian em Han Solo: Uma História Star Wars. “Não olhei para trás. Tentei tratar a 2.ª temporada como somos tratados pelo tempo: coisas ruins acontecem, coisas boas acontecem, e o tempo continua correndo. Não tentei repetir coisas que tinham ocorrido.” Desde o início, Glover quis romper com a forma estabelecida. Em sua sala de roteiristas, ninguém tinha bagagem de TV – seu irmão, Stephen, por exemplo, nunca tinha escrito uma série. “Isso nos permitiu nos libertar do que uma comédia deve ser.”
Atlanta tem momentos engraçados e dramáticos, cenas realistas e outras quase nonsense. “A série é um exercício de tom”, afirmou Glover. “Muita gente tem medo do fracasso – especialmente negros, porque negros não têm chances de fracassar. O que faz me sentir bem e pode tornar a série especial é que não tenho medo de fracassar. Acho que isso mantém a série real.”
No 1.º episódio da 2.ª temporada, por exemplo, dois amigos estão jogando videogame, decidem pegar um lanche, mas, na verdade, fazem um assalto violento. A cena não tem relação com nenhuma outra. Está ali, como tantas, para mostrar que não é um evento extraordinário, mas algo corriqueiro na vida daquelas pessoas morando naquela cidade. “Minha perspectiva sobre Atlanta é porque sou um homem negro”, disse Glover. “Deveria haver mais séries em que perspectivas diferentes sejam refletidas.”
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.