Na teledramaturgia, 2004 não foi um ano de grandes novidades. Pelo menos não de boas novidades, como comprova a eleição Melhores & Piores de 2004, de TV Press. Eleita a Melhor Novela, Cabocla consagrou também Edmara e Edilene Barbosa na categoria Melhor Autor. Mas a trama já tinha ido ao ar em 1979, escrita pelo pai das autoras, Benedito Ruy Barbosa. Na época, Glória Pires foi alçada à categoria de estrela ao interpretar a caboclinha Zuca. Desta vez, Vanessa Giácomo não fez feio no papel, mas também não empolgou. Tanto que perdeu o posto de Atriz Revelação para Maria Flor, a Tina, na mesma trama. Na categoria Melhor Seriado, o prêmio também só confirmou o que já se sabia. O eleito foi o excelente Cidade dos Homens, em sua terceira temporada.

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Por outro lado, novidade foi o que não faltou em Metamorphoses, que a Record colocou no ar com o pomposo slogan "a novela que vai mudar a sua vida". Misturava a máfia japonesa com imagens de cirurgias plásticas reais e um inusitado transplante de faces. Mas a receita desandou, a novela saiu do ar antes da hora e abocanhou o título de Pior Novela, garantindo ainda a "honraria" às autoras Arlette Siaretta e Letícia Dornelles e à diretora Tizuka Yamasaki.

Senhora do Destino e Da Cor do Pecado, duas tramas com excelentes índices de audiência, aparecem bem representadas. Guilherme Weber, na pele do vilão Tony na novela das sete, foi eleito Ator Revelação, enquanto o já consagrado Matheus Nachtergaele garantiu o título de Melhor Ator Coadjuvante em sua estréia em novelas. A trama também deu a vitória a Denise Saraceni na categoria Melhor Diretor. Em Senhora do Destino, brilhou José Wilker, eleito Melhor Ator com o impagável Giovanni Improtta. A dobradinha de Renata Sorrah e Leandra Leal, que vivem se enfrentando como a vilã Nazaré e a justiceira Cláudia, também rendeu frutos às duas atrizes, eleitas, respectivamente, Melhor Atriz e Melhor Atriz Coadjuvante.

Novela

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Melhor: Cabocla

Ares do campo

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Com enredo simples e nenhuma modificação significativa em relação à história original, Cabocla, de Benedito Ruy Barbosa, conquistou o público das

18h e 70% dos votos. Como na primeira vez em que foi exibida, em 1979, o romance de Zuca com o doutorzinho Luís Jerônimo foi ofuscado pela história de amor à la Romeu e Julieta de Neco e Belinha, papéis de Danton Mello e Regiane Alves. Em parte, devido à bem-explorada pendenga política entre os pais dos "pombinhos", os coronéis Justino e Boanerges, magistralmente interpretados por Mário Mendonça e Tony Ramos.

Pior: Metamorphoses

Erro cirúrgico

A Record não economizou pompa no lançamento de Metamorphoses. A propaganda fez efeito: a novela estreou com 14 pontos de Ibope, num domingo. Não demorou, no entanto, para que a máfia japonesa, as sanguinolentas cenas de cirurgias plásticas e o pouco crível transplante de face da personagem central afugentassem o público. A novela foi finalizada às pressas.

Ator revelação

Guilherme Weber

Cria dos palcos

Depois de 12 anos de trabalhos ininterruptos nos palcos, com a reconhecida Sutil Companhia de Teatro, Guilherme Weber estreou em novelas com o surtado Tony, em Da Cor do Pecado. O maquiavélico personagem foi colocando as manguinhas de fora aos poucos no início, tinha pinta de galã mal-intencionado, mas evoluiu para a loucura desbragada e abocanhou 38% dos votos.

Ator

Melhor: José Wilker

Um tipo felomenal

O amor de Giovanni Improtta por Maria do Carmo, a "mocinha" de Senhora do Destino, não era para passar da fase platônica. Mas, graças à simpatia do público pelo personagem de José Wilker, o autor Aguinaldo Silva já está abrindo caminho para que o hilário ex-bicheiro "a conquiste-a", como ele próprio diria, no linguajar que se tornou sua mais marcante característica. Logo atrás vem Tony Ramos, com seu não menos simpático Coronel Boanerges, de Cabocla.

Pior: Ricardo Macchi e Marcos Paulo

À sombra de Igor

Quando o público finalmente parecia superar a lembrança do robótico cigano Igor, de Explode Coração, Ricardo Macchi voltou à tevê na fracassada Metamorphoses, como o interesseiro "caça-dotes" Ângelo. Já Marcos Paulo ganhou exatamente o mesmo percentual de votos ao tentar reviver seu passado de galã com o insosso Miguel Arcanjo de Começar de Novo.

Atriz

Pior: Vanessa Lóes

Em outra pele

A tarefa de Vanessa Lóes em Metamorphoses era, no mínimo, arriscada. A atriz começava a trama como a jovem e determinada Lia e, depois de um transplante facial, "virava" a bem-sucedida médica Circe, perseguida pela máfia japonesa. Desmemoriada, reaprendia a viver como Lia para depois descobrir que, na verdade, era a outra. Na confusão em que se transformou a trama, Vanessa se perdeu junto.

Melhor: Renata Sorrah

O bom de ser má

O autor Aguinaldo Silva diz ter se inspirado no gato Tom, do desenho animado Tom & Jerry, para criar a surtada Nazaré, de Senhora do Destino. Tudo porque as armações da ladra de criancinha vivem dando errado, mesmo com o fim da novela ainda distante.

Melhor ator coadjuvante

Matheus Nachtergaele

De outro mundo

Bastante conhecido do público graças à participação em projetos especiais, sobretudo O Auto da Compadecida, Matheus Nachtergaele resistia à idéia de fazer novelas. Mas, pelo menos pelo que se viu na telinha, o ator parece ter se divertido bastante na pele do falso vidente, que acabou ganhando uma espécie de "novela à parte" em seu núcleo no Maranhão.

Melhor atriz coadjuvante

Leandra Leal

A justiceira

A entrada de Leandra Leal em Senhora do Destino não foi nada fácil. Logo em sua primeira cena, Cláudia voltava para casa e recebia a notícia da suspeitíssima morte do pai. Depois, vieram inúmeras cenas de choro e discussões homéricas com a maquiavélica Nazaré. Mas a atriz deu conta de tudo isso e ainda de transformar a inicialmente arredia personagem em uma típica mocinha apaixonada.

Autor

Melhor: Edmara e Edilene Barbosa

Carga genética

Habituais colaboradoras de Benedito Ruy Barbosa em suas tramas, as filhas Edmara e Edilene ganharam status de primeiras-autoras em Cabocla. Mas a tarefa não era das mais exigentes. Afinal, a trama deveria ser apenas adaptada da original, escrita pelo autor em 1979.

Pior: Arlette Siaretta e Letícia Dornelles

Aquém da imaginação

O intrincado argumento de Arlette Siaretta para Metamorphoses passou pelas mãos de Mário Prata e José Louzeiro antes de ser desenvolvido pela própria sócia da produtora Casablanca. Nos dois casos, houve desentendimentos em relação a radicais mudanças nos textos dos autores. O resultado foi uma caótica mistura.

Diretor

Melhor: Denise Saraceni

Ação!

Se há uma coisa que não faltou em Da Cor do Pecado foi ritmo. E, graças à diretora Denise Saraceni, eleita com 30% dos votos, a novela não perdeu o fôlego nem criou barriga em seus longos meses de exibição.

Pior: Tizuka Yamasaki

Gato por lebre

O nome de Tizuka Yamasaki foi apontado por vários atores de peso que entraram no elenco de Metamorphoses como o principal motivo para o "sim" ao convite. A conceituada diretora nem ficou até o final da trama, que chegou ao fim sob a batuta de Pedro Siaretta. Mas a aura de fracasso que contagiou a produção se abateu também sobre Tizuka.