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Aguinaldo Silva não tem conseguido ser atraente nem nas maldades de Silvia, de Alinne Moraes. Muito menos com Ferraço, personagem
de Dalton Vigh.

Os vilões costumam ser os personagens mais atraentes das novelas. Mas esta regra não se aplica a Duas Caras. Cada vez mais à deriva, a trama de Aguinaldo Silva não tem conseguido ser atraente nem nas vilanias da mimada Silvia, de Alinne Moraes. Muito menos com Ferraço, personagem que poderia ser um monstro da perfídia, um gênio da maldade repleto de facetas que influenciariam toda a história. Mas ele, assim como esta novela, só tem uma cara: o tédio. Com a exceção de parcos personagens interessantes da trama, como a hilariante Gioconda, de Marília Pêra, ou o centralizador Juvenal, de Antônio Fagundes, a história está cada vez mais carente de atrativos.

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Desde a iluminação repleta de sombras até a direção pouco cuidadosa de Wolf Maya, a novela perdeu o carisma do início e caminha com seus previsíveis 41 pontos de média. Com isso, nem a beleza tem sustentado a atenção na produção. Alinne Moraes, apesar de ser a imagem da impecável bonequinha de luxo, tem se perdido na mais óbvia caricatura ao fazer caras, bocas e apertando os olhinhos para mostrar o quanto poder ser malvadinha. Nada mais previsível para uma vilã de primeira viagem. Principalmente nas cenas de sua personagem com o intragável Renato, vivido pelo novato Nicolas Prattes. O menino até consegue mostrar toda a chatice encarnada em uma criança, numa atuação convincente. Realmente faz acreditar que é criado por uma mãe exageradamente atenciosa e que provavelmente pode virar um adulto meio estranho. Daqueles homens que saem na rua com um casaquinho e um guarda-chuva a tiracolo.

Em meio aos personagens tedientos, as cenas sofrem com um áudio ineficiente. Mesmo nas tomadas mais simples, as músicas de suspense estão presentes e buscam criar tensão até em takes leves, o que confunde muito. A princípio, tudo parece envolvido num clima de mistério, até que se prove o contrário. Ou seja, um recurso frágil para tentar prender a atenção.

Basta estar mais atento às cenas de Guigui, de Marília Gabriela, andando pelas ruas com o áudio de mistério ou mesmo de Alzira, de Flávia Alessandra, passeando pela Portelinha, que a impressão que se tem é que ambas estão sendo seguidas. E podem, a qualquer momento, receber as lendárias facadas que consagraram o longa Psicose, de Alfred Hitchcock. Só falta a produção mostrar, meio sem querer, Aguinaldo Silva passeando sua silhueta delgada por trás de uma cena na Portelinha, como Hitchcock fazia em seus longas. Na verdade, o que parece faltar à história são acontecimentos mais críveis e contundentes. Além disso, depois de Renata Sorrah, com uma impecável atuação como a diabólica Nazaré em Senhora do Destino, não dá para o autor entregar um dos personagens mais importantes de uma novela para uma aprendiz de vilã, como a bela Alinne Moraes. Falta, no mínimo, bagagem.

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