As cinzas de Deus estão na Cinemateca

As cinzas de Deus, primeiro longa-metragem brasileiro de dança, em cartaz na Cinemateca de Curitiba, é considerado um filme de arte, acessível a qualquer público. A coreógrafa Fernanda Lippi e o diretor André Semenza estiveram em Curitiba para o lançamento e o consideram uma obra aberta e sensível. ?Os cinemaníacos opinam que o trabalho cinematográfico é inovador e sensível, já o público em geral, se emociona com as cenas de profundo lirismo e com a trilha sonora?, continuam.

Os 73 minutos do longa mostram cenas interpretadas por bailarinos em uma coreografia feita com exclusividade para o filme. O diretor suiço André Semenza escolheu as ruínas de antiga estação de trem de Ribeirão Vermelho, em Minas Gerais, para a locação. O complexo arquitetônico, do final do século XIX, apresenta marcas de inundações e ostenta uma rotunda fenomenal (a maior da América Latina). Uma atmosfera de poeira, com a cor da terra predominando, completam o clima teatral dos cinco corpos que se movimentam na tela.

A coreógrafa mineira Fernanda Lippi, autora do tema, esclarece que não se trata de uma coreografia filmada. Seria uma narrativa sem palavras idealizada e construída especialmente para a linguagem cinematográfica. Para compor As cinzas de Deus Fernanda inspirou-se no poema A metamorfose, de Ovídio (43 a.C. – 17 d.C.), que fala das transformações na natureza, desde o início dos tempos até a época do imperador romano Júlio César.

O elenco é formado por cinco bailarinos: Tuca Pinheiro, Heloísa Domingues, Ricardo de Paula, Jacqueline Gimenez e Mareai Dinis. Parecendo perseguidos por lembranças, eles se movem se forma densa e atormentada. Mas o que aparentemente é tenso, se revela em movimentos cheios de sentimento e beleza.

Semenza utiliza a câmara fechada, com exceção de um raro momento em que o cenário é visto como um todo e mostra imagens da estação enevoada na bruma. Na avaliação da crítica da Folha de S. Paulo, ?tudo somado resulta num filme bonito e instigante?.

Sobre o diretor

O suíço André Semenza tem 38 anos e é cineasta com formação no London International Film School e direção teatral no London Drama Studio. Filmou ficções como o média- metragem Totem e o curta That side of glass. Fundou, em 1995, a produtora Maverick Motion, que já produziu diversos curtas de dança e espetáculos teatrais no Brasil e Europa. Em 1999 realizou o documentário de dança Heaven expired. Atua como diretor artístico da Companhia Zikzira Physical Theatre, junto com Fernanda Lippi. É autor do documentário Amazon visions sobre o trabalho voluntário de oftalmologistas na Amazônia.

Sobre a coreógrafa

Fernanda Lippi é bailarina e coreógrafa. Mineira, vive entre o Brasil e a Inglaterra. Estudou na conceituada escola de coreografia Laban Center (Londres) e trabalhou com Rosemary Butcher (como assistente) e Lia Anderson (bailarina). Fundou em 1999 a companhia Zikzira Physical Theatre, que tem como proposta trabalhos de dança em espaços alternativos. No mesmo ano, produziu e atuou no curta Ain´t no broken coração (Tina Beyeler). Em 2002, coreografou o videodança Fliessgleichgewicht além de ter atuado como dançarina no longa Code 46 (Michel Winterbottom).

Ficha técnica

As cinzas de Deus

Direção: André Semenza (ver currículo). Coreografia: Fernanda Lipp (ver currículo).

Diretor de fotografia: Marcos Waterloo. Elenco: Tuca Pinheiro, Heloísa Domingues, Ricardo de Paula, Jacqueline Gimenez e Mareai Dinis.

Produção: Maverick Motion com co-produção da TV suíça DRS. Realização: Zikzira Teatro Físico.

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