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Artistas relembram Hilda Hilst com nostalgia em última mesa da Flip

Um tom nostálgico marcou a última mesa de debates da 16ª Festa Literária Internacional de Paraty, a Flip, no início da tarde de domingo, 29. Três artistas que tiveram um contato próximo com a poeta Hilda Hilst, a homenageada desta edição do evento, relembraram momentos que ajudaram a compor seu perfil. “Hilda era rock’n’roll, uma mulher irreverente e original”, comentou o músico Zeca Baleiro, que lançou um disco com 10 cantoras interpretando canções com poemas dela como letra. “Apesar de viver um personagem, ela falava com sinceridade sempre”, atestou o fotógrafo Eder Chiodetto, que registrou imagens de Hilda para seu livro O Lugar do Escritor (Cosac Naify, 2002). “Hoje, percebo que escolhi fazer um monólogo de O Caderno Rosa de Lori Lamby porque se trata de sua obra mais alegre”, confessou a atriz Iara Jamra, sobre o trabalho que interpretou no final dos anos 1990.

Os três artistas traçaram o perfil de uma mulher ciente da importância de sua obra, daí seu imenso aborrecimento pelo esquecimento a que foi relegada. Também uma senhora com desejos ainda pulsantes, mas ciosa de seu espaço, a ponto de se recolher nos últimos anos na Casa do Sol, pequena chácara na região de Campinas, onde vivia isolada, com poucos mas fiéis amigos e inúmeros cachorros. “Ali se transformou no Planeta Hilda”, observou Chiodetto, encantado com um velho relógio que descobriu pendurado na sala de visitas – sem ponteiros, o que realmente lhe dava destaque era uma frase encravada entre os números: “É mais tarde do que supões”. “O relógio se tornou em seu oráculo, o epicentro de seu local de criação, aquele espaço onde o escritor se fecha voluntariamente para criar novos mundos.”

Já Zeca Baleiro precisou de seis anos para selecionar as canções que compõem o álbum Ode Descontínua e Remota para Flauta e Oboé: de Ariana para Dionísio, lançado em 2007, e acertar a participação de intérpretes como Maria Bethânia, Zélia Duncan, Ângela Maria, Ná Ozetti, Ângela Ro Ro, entre outras. “Infelizmente, Hilda morreu (em 2004) antes do projeto ficar pronto”, conta o músico que, durante o processo criativo, ouviu apenas duas reprovações da poeta em relação à métrica. “E ela estava certa”, diverte-se ele que, logo no primeiro encontro, teve uma ideia da personalidade dela. “Hilda gostava de chocar e, logo que nos conhecemos, ela contou histórias chocantes, recheadas de palavrões. Era um perfil que ela gostava de cultivar e, em pouco tempo, Hilda percebeu que o folclore do artista compete com sua própria obra.”

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