Artista Leonilson é tema de duas mostras em São Paulo

Celebrado como “herói” ou “anti-herói” de sua geração e de futuras, o artista Leonilson (1957-1993), que trouxe o caráter íntimo e a palavra para suas pinturas, desenhos e bordados, é tema de duas exposições em São Paulo. A maior delas, Leonilson: Truth, Fiction, vai ser inaugurada no dia 9 de agosto na Estação Pinacoteca. Com curadoria de Adriano Pedrosa, a mostra contará com mais de 150 peças criadas, principalmente, entre 1989 e o ano de sua morte. Já a Galeria Superfície, nos Jardins, abre amanhã, às 19 horas, Leonilson: Verdades e Mentiras, organizada, especialmente, pela pintora Leda Catunda.

É incontornável exibir a obra deste criador brasileiro, expoente dos anos 1980 e 1990, sem trazer à tona sua conhecida história e suas declarações pessoais sobre sua vida e seus amores. Curiosamente, até mesmo essas duas novas exposições do artista têm como característica serem apresentações de olhares de dois de seus amigos para sua produção – Adriano Pedrosa o conheceu em 1989; Leda Catunda, em 1983 (leia abaixo). Morto precocemente, em decorrência da aids, José Leonilson Bezerra Dias adquiriu a “singularidade” de sua arte (ou descolou-se da “Geração 80”), considera o curador da mostra na Estação Pinacoteca, justamente por colocar o texto – frases de cunho poético e autobiográfico, como anotações de sentimentos e pensamentos – em suas criações.

No caso da mostra na Estação Pinacoteca, um dos desenhos de Leonilson, Favorite Game, de 1990 – reproduzido no alto desta página e que traz a figura de um homem entre as palavras “truth/fiction” (verdade/ficção) – tornou-se um “emblema”, diz Adriano Pedrosa, não apenas para que refletisse criticamente sobre a produção do criador, mas também de sua “relação com a história” – noção de história de uma forma geral, que “define tanto os relatos históricos, quanto os pessoais, os factuais e os ficcionais”. “Acho que existe um jogo do Leonilson quando ele fala sobre si próprio, como se fosse um personagem”, considera o curador, que tomou os dizeres de Favorite Game como título da exposição.

“No caso do Leonilson, hoje, ou nos últimos cinco ou dez anos, sobretudo com as pessoas que não o conheceram, existe um problema, que é também da história da arte ortodoxa, de reconstruir e construir a leitura de sua obra por sua biografia e declarações do artista, sobre o que sentia, pensava”, afirma Pedrosa, lembrando das famosas fitas nas quais o artista gravou pensamentos soltos (o material serviu de base para filme que o documentarista Carlos Nader está finalizando sobre o artista). Salta, assim, uma questão: “Como produzir verdades a partir daquele discurso?” – e, nesse sentido, é importante lembrar da retrospectiva que a curadora Lisette Lagnado realizou, em 1995, Leonilson – São Tantas as Verdades (este, nome tirado de um de seus trabalhos, de 1988).

Na exposição que ocupará todo o quarto andar do museu, as obras do artista serão apresentadas em núcleos temáticos. O primeiro, Diário, é como uma passagem mais geral por questões muito próprias e recorrentes na produção de Leonilson, como o autorretrato, o desejo e o duplo (sobre a sexualidade), explica o curador. Seguem, depois, os segmentos Mapas (sobre representações que relacionam corpo/paisagem); Matemática e Geometria (entre o formal e o poético); Brancos (no qual se destaca a presença do tecido); e Capela do Morumbi (recriação da já histórica instalação exibida na Capela do Morumbi em 1993). Mais ainda, um núcleo será dedicado às ilustrações que Leonilson publicou no jornal Folha de S.Paulo nos anos finais de sua vida, e outro, intitulado 1991, vai ser uma sala com pinturas que remetem a um encontro do curador com o artista.

Naquele ano, Pedrosa realizou uma “conversa ao longo de uns dias, em São Paulo e em Nova York” com Leonilson. O material, uma entrevista inédita, estará em livro que acompanha a exposição e a ser lançado pela Editora Cobogó.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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