Para o filósofo ateniense Sócrates, conhecer-se a si mesmo era tanto o caminho para a compreensão do mundo quanto para viver-se bem. Somente ao despertarmos para a nossa voz interior poderíamos formar uma opinião verdadeira sobre o vasto mundo no qual vivemos. Mas o que isto tem a ver com Arthur Bispo do Rosário e com a Fotografia brasileira?
O trabalho de Bispo do Rosário exerce uma forte influência sobre a comunidade das artes de nossa época. Curadores, críticos, artistas das mais variadas linguagens etc., têm aplaudido com entusiasmo o seu trabalho. Mas o que em Bispo do Rosário atrai tanto? Longe de querer fazer uma apreciação estética de sua obra, sugiro que é a voz interior poderosa de Bispo que nos atrai. De seu trabalho emana a autoridade de quem está em contato direto com a mais profunda natureza humana. E todo artista e apreciador de arte sabe que despertar para a própria voz interior é o primeiro passo que fundamenta o desenvolvimento de um trabalho pessoal, poderoso e radical. Assim, fica a esperança de o futuro próximo nos reservar uma fase das artes plásticas brasileiras marcada pela influência de Bispo do Rosário: influência não no sentido do surgimento de artistas-clone, mas no verdadeiro caminho da renovação que seria o surgimento de artistas de grande originalidade e valor estético, bem como de profissionais que trabalham com arte melhor preparados tecnologicamente para reconhecer e apreciar idéias renovadoras.
A Fotografia brasileira também pode ganhar com o fenômeno Bispo do Rosário. Indo um pouco mais além, a Fotografia deve querer ganhar. Ganhar primeiramente com o aparecimento sempre bem-vindo de novos artistas que apresentem ao mundo imagens fotográficas pessoais, poderosas e radicais, portanto, renovadoras de nosso cenário cultural. Para que isto aconteça, é necessário que os novos fotógrafos se empenhem fortemente no aprimoramento de seu conhecimento técnico, mas sobretudo no desenvolvimento de sua visão singular de mundo. E finalmente a Fotografia deve querer ganhar com o aprimoramento técnico dos profissionais que trabalham nas instituições de cultura e de negócios com cultura, pois em última análise cabe a eles o papel fundamental de oxigenar com novas idéias o ambiente da comunidade na qual se inserem.
Conhecer-se a si mesmo. Desenvolver a capacidade de aliar ao conhecimento amplo da cultura humana o conhecimento singular e existencial da nossa própria voz interior: esta é a condição indispensável para o surgimento de artistas e profissionais marcantes, que vêm para renovar o cenário cultural brasileiro através de suas posições ousadas e repletas de vitalidade. E Arthur Bispo do Rosário nos mostra com nitidez o fundamento eterno deste misterioso caminho.
Roberto Lopes é fotógrafo e editor do site de Fotografia exclusivo do Paraná-Online, Pensamento Fotográfico www.parana-online.com.br/fotografia/