O espetáculo Os dois cavalheiros de Verona é uma das grandes atrações da 16.ª edição do Festival de Teatro de Curitiba. Mas antes mesmo de entrar no palco do Guairão ontem, a trupe carioca já garantiu muitos aplausos dos atores do projeto sociocultural ?Minha vila filmo eu?, desenvolvido na Vila Torres.
Assim como os pequenos espectadores, os atores que encenam o espetáculo também vêm de uma origem humilde. Eles descobriram a arte no projeto Nós do Morro, desenvolvido no Morro do Vidigal, uma das maiores favelas do Rio de Janeiro.
Com 20 anos de existência, o projeto comandado por Gut Cunha ganhou destaque especialmente após revelar para o mundo o talentoso elenco do premiado Cidade de Deus, de Fernando Meireles. ?O filme foi um divisor de águas. Nós trabalhamos há bastante tempo, mas este trabalho nos deu maior visibilidade?.
O Nós do Morro nasceu de uma necessidade intrínseca de Cunha de ser um agente transformador por meio da arte. ?Vivo lá há 30 anos e decidi que aquela comunidade precisava ter a arte de modo mais acessível. E muitos talentos que vivem lá, que têm a arte na alma, precisavam de uma oportunidade?.
Com boa vontade e determinação, o diretor convocou um grupo de amigos que abraçaram a causa e começaram a ministrar aulas de interpretação para a comunidade. Com o tempo, batendo de porta em porta, os moradores também eram convidados para ver o trabalho desenvolvido pelo grupo. ?Hoje existe o hábito de ir ao teatro no Vidigal. É algo que já faz parte da comunidade?, diz orgulhoso. Mais orgulho ainda ele tem quando fala que o intuito do Nós do Morro é criar excelentes profissionais. , passando longe daquele discurso politicamente correto que prega que atividades culturais servem apenas como uma válvula de escape para comunidades carentes. ?Temos um método que mistura técnica com entendimento da realidade. E o trabalho é duro e a resposta está nos palcos, na televisão e no cinema?. Entre os destaques estão Thiago Martins, que participou da novela Belíssima e Mary Sheyla, que despontou na novela A Lua me disse.
E é onde eles chegaram que a pequena curitibana Maila Albino quer chegar. ?Quero ser uma grande atriz e sei que para isso preciso estudar muito e me dedicar?. Ela é uma das crianças inseridas no projeto Minha vila filmo eu, coordenado por Marcelo Munhoz. Há dois anos, crianças e adolescentes da Vila Torres têm acesso a aulas de interpretação. ?Muita da nossa inspiração veio do Nós do Morro. Nós acreditamos na proposta e queremos dar uma oportunidade a eles, que vivem numa comunidade que não têm acesso fácil à cultura?.