No Brasil inteiro e no exterior se sabe que há em Londrina um festival internacional de teatro, o Filo, referência na América Latina. Esta história começou nos anos 60, com estudantes universitários utilizando o teatro como uma forma de resistência política.
O movimento teatral evoluiu, acompanhou a ginga do tempo e se transformou em renomado festival, além de proporcionar o nascimento de grupos de qualidade como o Delta, Proteu, Armazém, entre outros. Londrina também possui um festival de música, para o qual convergem jovens do Brasil inteiro, no mês de julho. Os dois eventos fazem esta cidade do interior ter desenvoltura cultural que raras capitais brasileiras possuem.
Mas a cultura que nasce em Londrina não vive apenas disso. A cidade é o berço cultural de artistas do porte de Arrigo Barnabé, Itamar Assumpção, Paulo Barnabé e sua Patife Band, Robinson Borba, Bernardo Pelegrini e seu Cão sem Dono, os poetas Ademir Assumpção e Rodrigo Garcia Lopes, e outras expressões na música, na poesia e na literatura. Para que a cidade estimulasse os fazedores locais de arte – muitos dos quais tiveram de emigrar para ganhar maior visibilidade-, é que nasceu há 13 anos a Fundação Cultura Artística de Londrina, Funcart, uma instituição privada sem fins lucrativos, atuante nos últimos dez anos.
É apenas mais um jeito de Londrina fazer cultura. O trabalho dessa entidade contempla o teatro com uma Escola Municipal de Teatro, mas a entidade deu impulso maior a outras duas manifestações: a dança e o circo. A Fundação gerencia uma Escola de Dança, o Ballezinho (companhia mirim), uma companhia profissional de dança e um circo. Além disso, mantém o site Conexão Dança.
O trabalho desenvolvido pela entidade nos últimos dez anos foi reunido pelas jornalistas Joice Montefeltro e Iara Lessa no livro Funcart -Arte sem Firula/Cultura sem Frescura, editado pela Universidade de Londrina e Imprensa Oficial do Estado, e lançado ontem, no Centro Cultural Brasil-Espanha, em Curitiba. O livro é um resumo da história da Funcart, bem ilustrado com fotos de espetáculos de dança, teatro e circo montados em Londrina.
Importância
Para se ter uma idéia da importância desta instituição, pela Escola Municipal de Dança já passaram mais de 1.300 alunos, muitos dos quais seguiram carreira e foram contratados por companhias de dança de todo o País. Foram 28 espetáculos de dança contemporânea clássica, totalizando 621 apresentações levadas ao palco pelos bailarinos da escola, do Ballezinho e do Ballet de Londrina. Seiscentos alunos já participaram da Escola Municipal de Teatro. Somando 18 montagens e 330 apresentações, que envolveram os alunos dos cursos regular e infanto-juvenil. Um público estimado em 280 mil pessoas assistiu aos espetáculos de dança e de teatro da Funcart.
Ao longo de todos estes anos, houve a providencial ajuda de pequenos investidores, gente comum, que se encantou com o trabalho da instituição, formando um exército anônimo que viabilizou muitos espetáculos. Através de campanhas de arrecadação elaborada pela instituição, o londrinense participou de uma maneira diferente de reunir investidores e fazer arte.
O livro é isto: um registro da forma londrinense de fazer a cultura aflorar. Há até um comovente depoimento do ator Paulo Autran que simboliza o respeito por este trabalho. “Um dos maiores prazeres da minha vida e, ao mesmo tempo uma honra, foi poder colaborar com o sucesso da Funcart, nesses dez anos de trabalho e empenho pela produção artística de Londrina. Pude, por alguns meses, durante a montagem do espetáculo A Tempestade, conhecer de perto essa gente atuante que não mede esforços para fazer dança e teatro”, diz o veterano ator. É uma frase que resume tudo.
Osneli Bittencourt, especial para O Estado