A fachada do Masp começou a se transformar num grande diagrama de bordado de um céu azul, com representações de nuvens, pontos de cruz, linhas e agulhas. “É uma ficção gigante, como se fosse um céu afixado, independente das variações de dia e noite”, diz a artista Regina Silveira, que se lança agora a realizar sua maior obra de arte pública, desta vez, no edifício que é um ícone da cidade de São Paulo e da arquitetura, o emblemático prédio na Avenida Paulista desenhado pela arquiteta ítalo-brasileira Lina Bo Bardi. “Fazer essa caixa maravilhosa e suspensa como se fosse uma caixa bordada é um processo de carinho pelo prédio”, diz Regina Silveira, propondo, mais uma vez com maestria, uma “conversa entre real e artifício” com sua criação.
Desde anteontem à tarde, uma pequena equipe de homens faz rapel na fachada dos fundos do Masp – a que está voltada para a Avenida 9 de Julho -, subindo e descendo o edifício para fixar (com cola removível) faixas de vinil translúcido com impressões digitais que formarão o grande céu bordado da obra Tramazul. Ao todo, os alpinistas, coordenados por Marcos Rabioglio, cobrirão 320 vidros do prédio do museu (indo do lado posterior até, por fim, chegar à fachada frontal do edifício), um trabalho que tem previsão de ficar pronto no próximo dia 13. O “Masp azul celeste” ficará dessa maneira até janeiro.
Simbolicamente, Tramazul é uma “obra de luz” para uma artista que também trabalha com sombras. Regina Silveira tem experiência de décadas em trabalhos de arte pública efêmera em arquiteturas (interiores e exteriores) diversas e de vários lugares do mundo – e neles, assim como em suas obras de escala menor, ela joga no campo do simulacro, promovendo ilusionismo, manipulando a perspectiva e sombras, muitas vezes. É uma obra complexa a da artista, de relação direta de imagem e percepção.
Se em 1998, por exemplo, Regina colocou grandes pegadas de animais na fachada do pavilhão da Bienal de São Paulo no trabalho Tropel, fazendo alusão de que os bichos estavam presos no prédio e que naquele momento poderiam ter escapado e se espalhado pelo Ibirapuera – era a 24.ª edição do evento, sobre a questão da Antropofagia -, agora, ao pensar uma obra para o Masp, ela traz a leveza do céu e da prática “transcultural”, como diz, do bordado, de um fazer que remete ao delicado. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.