A vontade de dialogar com trabalhos de grandes expoentes da arquitetura e do urbanismo brasileiros será concretizada para o arquiteto alemão Hans-Walter Müller. Radicado na França, Müller, de 75 anos, traz ao Jardim de Esculturas do Parque do Ibirapuera, na zona sul de São Paulo, uma estrutura inflável, característica de suas obras, com 18 por 9 metros, que assume formas variadas e foi criada especialmente para ocupar o espaço. “Desejei muito uma oportunidade para um projeto que fizesse parte dessa energia que existe no Brasil”, conta Müller. O projeto “Arquitetura em Movimento” estará aberto ao público a partir do dia 25 de janeiro, como parte das comemorações do aniversário de 456 anos da cidade de São Paulo.
Ali no parque, a “arquitetura efêmera” da estrutura inflável de Müller vai compor um cenário com duas obras de arquitetos admirados pelo artista alemão: a “Oca”, projetada por Oscar Niemeyer ,e o “Jardim de Esculturas”, cujo projeto paisagístico é de Burle Marx. Para Müller, sua criação pode ser vista como uma pintura. “O inflável dialogará com a arquitetura do Parque do Ibirapuera, que dialoga com o ‘Jardim de Esculturas’ e como pano de fundo teremos o céu azul de São Paulo”, diz ele. “Quando eu e o curador Eric Corne falamos (sobre o projeto), me foi permitido descobrir mais a cidade de São Paulo, uma cidade impossível que sabe encontrar equilíbrio em sua poesia.”
A instalação também permitirá uma experiência multissensorial ao visitante, resultado da ambientação desenvolvida pelo coletivo de arte Estúdio BijaRi. Composto por seis arquitetos que desenvolvem projetos de intervenção urbana com o auxílio de novas tecnologias, o grupo de São Paulo criou uma escultura espelhada e iluminada por lâmpadas led que fica na parte interna da lona inflável. Pelo reflexo dos espelhos, a sensação será a de estar em uma cratera, clima reforçado pelo som abissal ouvido no ambiente, explica Maurício Brandão, integrante do coletivo. O objetivo, segundo ele, foi trabalhar com as alterações dos desvios da topografia e os diferentes contornos causados pela movimentação da estrutura inflável.
Assim, a obra poderá ser apreciada tanto do lado de fora, com o parque ao fundo, quanto internamente. “Mas com certeza é muito mais interessante do lado de dentro, já que, pelas suas características, o som funciona melhor lá dentro”, afirma Brandão. Para fazer a trilha sonora e a iluminação, foram convidados, respectivamente, Ricardo Carioba e Mirella Brandi.
O projeto, realizado pela Prefeitura, por meio da Secretaria Municipal de Cultura, faz parte de um intercâmbio cultural da região de Ile-de-France com a cidade de São Paulo. Foi nessa área periférica de Paris que o BijaRi participou de uma residência artística em 2008 e 2009, oportunidade em que os participantes do grupo foram apresentados a Müller por Eric Corne. “Os BijaRi estão particularmente interessados em arquitetura e essas questões intervencionistas na cidade estão no coração de suas preocupações. As questões sociais e políticas transmitidas pelo gesto arquitetônico de Müller não estão longe do território artístico deles”, avalia Corne. No ano passado, o francês foi curador da mostra “Arte na França 1860-1960: O Realismo”, que ficou em cartaz no Museu de Arte de São Paulo (Masp).
Müller chegou a São Paulo na última quarta-feira para ajudar na montagem e execução do projeto. Toda a fase de planejamento do trabalho e a comunicação com os integrantes do coletivo foi online, via e-mails. “O processo de uma arquitetura em movimento exige trabalho em grupo, sinergia e multidisciplinas para a execução”, considera.
Serviço: “Arquitetura em Movimento”, de Hans-Walter Müller com coordenação do Estúdio BijaRi
Parque Ibirapuera – Avenida Pedro Álvares Cabral, s/nº – Portões 1 (pedestres) e 3 (automóveis). Aberto ao público de 25/01 a 28/02, das 14 horas às 23 horas. Acesso à área interna: das 18h30 às 22h30. Lotação: 150 pessoas por sessão