Arnaldo Jabor apresenta ‘A Suprema Felicidade’ na Mostra de SP

Arnaldo Jabor traz hoje parte do seu elenco para exibir “A Suprema Felicidade” na 34ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. O longa, que inaugurou o Festival do Rio, estreia sexta-feira nas salas e a apresentação desta noite tem gostinho de pré-estreia. Jayme Matarazzo faz o garoto em que se projeta o diretor, que se inspira em personagens e eventos de sua família sem ser necessariamente autobiográfico. O filme é ‘pessoal’, como diz o próprio Jabor, que regressa ao cinema após um hiato de quase 20 anos. Marco Nanini, que faz o avô, tem uma participação inesquecível, mas está preso no Rio, gravando na Globo.

Há, nesta terça-feira, um interessante leque de opções do cinema brasileiro na Mostra. São filmes de várias tendências, que espelham a diversidade da produção nacional. O melhor deles é “O Senhor do Labirinto”, criminosamente ignorado pelo júri oficial, no Festival do Rio, mas que recebeu o prêmio do público na Première Brasil. O filme investiga arte e loucura por meio da figura emblemática de Artur Bispo do Rosário. Flávio Bauraqui é quem interpreta o papel e o filme centra-se no período em que o Bispo esteve internado na colônia Juliano Moreira, produzindo a arte que lhe valeu reconhecimento internacional, mesmo que ainda existam críticos dispostos a se interrogar sobre se o que ele fazia era mesmo ‘arte’.

No catálogo da Mostra, “O Senhor do Labirinto” é creditado a Geraldo Motta, mas há uma disputa na Justiça – o processo corre no Rio – pela qual Gisella de Mello reivindica a coautoria do filme. Ela se queixa de que, mais uma vez, está sendo humilhada ao não ser convidada para a sessão do filme que também dirigiu. Embora tenha problemas – a maquiagem nas cenas de envelhecimento do Bispo não convence -, “O Senhor do Labirinto” é tão bom que será uma pena, se a disputa entre Motta e Gisella prejudicar a carreira do filme. O roteiro cria um personagem – o enfermeiro/carcereiro interpretado por Irandhir Santos; a colônia Juliano Moreira era penal – que é o primeiro a perceber a genialidade do que faz o artista. Esse reconhecimento do sublime leva a uma das mais belas cenas do filme – a Pietà, quando Irandhir acolhe nos braços o corpo do Bispo (Bauraqui).

Os outros nacionais de hoje são “Boca do Lixo”, de Flávio Frederico, que reconstitui a trajetória violenta de Hiroito de Moraes Joanides na São Paulo dos anos 1950 e 60, quando ele iniciou sua carreira criminosa acusado do assassinato do próprio pai. O filme baseia-se no livro que o próprio Joanides escreveu para se justificar, quando estava na cadeia. Ele foi o explosivo resultado de um coquetel de influências. Tinha o nome do imperador do Japão, seu pai, de ascendência grega, era um ortodoxo que nunca tolerou a libertinagem do filho e o desejo movia o jovem Hiroito, que se envolveu com muitas mulheres (e se tornou um dos reis da prostituição na Boca). O resultado é mais interessante pela interpretação de Daniel de Oliveira do que pela Boca revista pelo diretor, mas teve seus defensores no Festival do Rio.

Dois filmes com o pé na literatura chegam à Mostra depois de passar em Gramado. “Ex Isto”, de Cao Guimarães, livremente inspirado no “Catatau”, de Paulo Leminski, e “O Último Romance de Balzac”, de Gerardo Sarno. E há ainda “Bróder” – a periferia vista por quem veio dela (Jeferson De).

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