O clima político frio, na quente Fortaleza, ganhou temperatura na cerimônia de encerramento do Cine Ceará, realizada sexta-feira no Cineteatro São Luiz, centro da cidade. Ao longo da noite, gritaram-se muitos “Fora, Temer”, palavra de ordem sempre aplaudida pela plateia. Como o evento é ibero-americano, ouviu-se, mais de uma vez, um “Fuera, Temer”, pronunciado por participantes hispânicos. Um deles, o argentino Guillermo Pfening, foi ganhador do troféu Mucuripe de melhor ator em Ninguém Está Olhando, longa de Julia Solomonoff que acabou vencendo o festival. O filme triunfou também na categoria de melhor montagem e ainda levou o prêmio da crítica, oferecido pela Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema). Foi o grande vencedor do festival.

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O longa argentino, história de um ator de telenovelas famoso em seu país que tenta fazer carreira em Nova York, bateu aquele que era considerado um dos favoritos, Uma Mulher Fantástica, de Sebastián Lelio, do Chile, premiado no Festival de Berlim, mas que no Ceará levou apenas dois troféus, os de trilha sonora original e som.

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Últimos Dias de Havana, que para muitos críticos (inclusive para este que aqui escreve) era o melhor longa do festival, levou dois troféus Mucuripe importantes, os de direção (Fernando Pérez) e fotografia (Raúl Pérez Ureta). Era o único grande filme em concurso com sua comovente história de dois amigos. Um deles, Miguel (Patricio Wood) deseja ir para os Estados Unidos. O outro, Diego (Jorge Martínez) é soropositivo e tem os dias contados, mas é cheio de vida. Com esse drama íntimo, a imersão na realidade cubana é total, feita de sinceridade, complexidade e tratamento nada estereotipado. Pena que o júri oficial não tenha reconhecido a gritante superioridade deste filme em relação aos outros concorrentes. Últimos Dias em Havana estreia dia 24 próximo. Confira.

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O outro concorrente cubano, o supervalorizado porém inconsistente Santa e Andrés, foi premiado pelo que tinha de pior, o roteiro, esquemático a mais não poder. Ganhou também o troféu de melhor atriz com Lola Amores, este justificável. Lola interpreta uma comissária do povo designada para vigiar um dissidente cubano. O filme enfrentou problemas com a censura, o que lhe conferiu a aura de qualidade que de outra forma não teria. Censores sempre promovem as obras que vetam, uma espécie de justiça poética.

O destaque – negativo – do festival fica para a fraca participação brasileira. Um prêmio apenas para longas, o de direção de arte, para Malasartes contra o Duelo da Morte. Pedro sob a Cama saiu de mãos abanando. O Mucuripe de melhor curta foi para o inventivo Um Festejo Muito Pessoal, de Carlos Adriano