Publicada em abril de 1981, a matéria do Jornal da Tarde contava a história do mais jovem integrante da Sinfônica do Estado de São Paulo. Arcádio tinha 17 anos, acabara de ser contratado pelo maestro Eleazar de Carvalho e falava de sua rotina de estudos e ensaios. Lembrava também que seu irmão mais novo, Roberto, de 14 anos, aguardava uma vaga na orquestra do Teatro Municipal – na verdade, recebera um convite para tocar no Rio, mas o pai decidiu que ele era novo demais para se mudar sozinho para outra cidade.
O tempo passou e, hoje, oboísta Arcádio Minczuk sobe ao palco da Sala São Paulo para comemorar seu aniversário na orquestra; vai solar o “Concertino para Oboé e Cordas”, de Brenno Blauth, com repetição amanhã e no sábado. Do seu lado, comandando a orquestra, Roberto Minczuk, o irmãozinho que, depois de uma rápida carreira como trompista, tornou-se regente, já ocupou o posto de diretor adjunto da Osesp e hoje é titular da Sinfônica Brasileira e da Filarmônica de Calgary, no Canadá.
Arcádio começou na música, como os irmãos, por influência do pai, sargento da Polícia Militar. O primeiro instrumento foi o bandolim. “Frequentávamos uma igreja evangélica de origem russa e eu tocava por conta disso”, lembra Arcádio. “Também aprendi outras coisas, como o bombardino, que o meu pai tocava na banda da polícia. Até que um dia ele me trouxe o oboé, dizendo que era um instrumento lindo e raro de encontrar. No começo, foi difícil me entender com o instrumento, que é difícil de controlar, exige uma capacidade física que eu ainda não tinha, precisei aprender a lidar com as palhetas, que não eram fáceis de encontrar aqui no Brasil. Mas, depois de dois ou três anos, me acostumei e gostei.”
Ele já tocava na Sinfônica Jovem quando fez a prova para a Osesp, na época comandada por Eleazar de Carvalho. “Ele já era o grande maestro brasileiro, eu sempre acompanhava seus concertos e tinha trabalhado com ele em Campos do Jordão também. E, de repente, fazia parte da orquestra dele. Olhando em retrospecto, acho que não estava totalmente preparado para a dificuldade do repertório que ele fazia, Stravinski, Bartók, era tudo muito complicado. Mas, ao mesmo tempo, a Osesp de certa forma me ajudou a concluir o aprendizado, porque estudava muito para estar pronto nos ensaios.”
Trajetória – Arcádio presenciou momentos distintos da história da Osesp. “Ainda vivi alguns anos de glória do Eleazar mas, depois, no final dos anos 80, vieram os desentendimentos dele com o governo, perdemos a sede, não tínhamos onde tocar, o próprio Eleazar começou a viver mais nos EUA, antes de ficar doente. Com isso, o público também foi se afastando.”
Nessa época, diz, pensou em deixar a música. “Era um cenário muito desanimador para o músico de orquestra. Mas éramos jovens, idealistas e abraçamos o projeto novo que surgiu, com o maestro John Neschling e o governador Mário Covas.” Atualmente, ele faz um doutorado sobre a relação do renascimento da orquestra com o contexto político e econômico vivido pelo País no fim dos anos 90. E se diz satisfeito. “Depois de todo esse tempo, o que posso dizer é que é muito bom ser o primeiro oboé dessa orquestra, nessa sala que até quem vem de fora inveja, tocando os solos mais bonitos que existem.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Osesp – Sala São Paulo (Praça Júlio Prestes, 16). Tel. (011) 3223-3966. Hoje, às 21h; amanhã, às 19h30; sábado, às 16h30. R$ 15.