‘Aquarela’ quer temática gay além de festivais de cinema

A temática homossexual até desponta nas telas em produções de grandes estúdios de Hollywood – “O Segredo de Brokeback Mountain” e “O Golpista do Ano”, com Jim Carrey, Ewan McGregor e Rodrigo Santoro, são exemplos – e ainda encontram vez em filmes nacionais, como em “Do Começo ao Fim” e “Elvis e Madona”. Mas muitas obras de interesse da comunidade LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transgêneros) acabam restritas a festivais cinematográficos e, assim, alcançam um público menor do que potencialmente teria. Esse poderia ter sido o destino de “Aquarela – As Cores de Uma Paixão” (Watercolors), que entra em cartaz hoje na capital paulista e que foi exibido na 32ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo em 2008.

 

“Aquarela” mostra o artista plástico Danny em sua primeira grande exposição e envolto com as lembranças da época de adolescente – interpretado pelo ator Tye Olson -, fase marcada pelo fugaz relacionamento com o conturbado campeão de natação do colégio Carter (Kyle Clare). A descoberta da homossexualidade e os conflitos motivados por isso (não apenas nos protagonistas, mas também a reação entre os colegas de escola, que resulta em violência) são temas da obra dirigida pelo nova-iorquino David Oliveras.

A produção é o quarto filme distribuído pela Festival Filmes, especializada em produções voltadas ao segmento LGBT e criada em julho de 2008 pela jornalista Suzi Capó. Diretora de programação do Festival Mix Brasil, já em 2004 Suzi tinha a vontade de se lançar na distribuição dos filmes que selecionava para a mostra sobre diversidade sexual e que sabia que não teriam chance de chegar ao circuito tradicional.

O piloto para a experiência foi o vencedor do Mix Brasil de 2007 “De repente, Califórnia”, lançado no ano passado e que chegou às telas de 15 cidades no País, entre capitais e localidades como Campinas, Santos e Tubarão (SC). Já o lançamento anterior ao “Aquarela”, o sueco “Patrick 1,5”, ainda em cartaz em Belo Horizonte e Salvador, teve distribuição em seis cidades.

Segundo Suzi, ela “adoraria trabalhar no interior de São Paulo”, mas questões técnicas ainda impedem uma ampliação das praças de exibição. “A Rain é a única empresa que faz projeção digital”, justifica. E além da falta de disponibilidade de salas, em certos locais, o entrave é de outra ordem. “Recife é um mercado interessantíssimo, mas infelizmente os cinemas não têm interesse em exibir esse tipo de filme.”

Diversidade

Suzi usa como exemplo a comédia romântica sueca em que um casal gay adota, por engano do órgão responsável, um adolescente de 15 anos ao invés de um bebê de 1,5 ano, para ressaltar a diversidade da produção voltada a esse público. “‘Patrick’ é um reflexo dos tempos em que vivemos: ser gay não quer dizer que você é marginal”, afirma. “A comunidade gay até encaretou muito.”

Em um gênero oposto está o drama israelense “Pecado da Carne”, lançado em abril e que entrou em cartaz em dez cidades. Além de trabalhar a divulgação dele para o público homossexual, Suzi conta que usou como estratégia atrair também a comunidade judaica, já que o filme aborda a relação de um judeu ultra-ortodoxo, casado e pai de família, com um rapaz da mesma religião que vai trabalhar com ele em seu açougue.

Em outubro, a Festival Filmes deve anunciar outro lançamento, o participante da Mostra de Cinema de São Paulo do ano passado, o canadense “Eu Matei Minha Mãe”. O filme é a estreia na direção de Xavier Dolan. Para 2011, o escolhido é o peruano “Contracorriente”, escrito e dirigido por Javier Fuentes-León, e que será o filme de abertura do Mix Brasil, em novembro, e que ganhou o “World Cinema Audience Award” no Sundance Film Festival 2010.

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