Foi tudo muito rápido: o convite, o "sim" e a participação. Clara Garcia chegou ao Rio para passar um fim de semana vinda de São Paulo, onde mora, e o celular tocou. Era Ciça Castello, produtora de elenco da novela Florisbella, da Band. A proposta, tentadora, era uma participação que deveria durar 21 capítulos na trama. Clara pouco hesitou. Simplesmente virou-se para o marido, que a acompanhava, e falou com indisfarçável ar de felicidade: "Acho que eu vou ficar um mês no Rio!", suspirou.
A personagem, que "caiu de pára-quedas" no colo de Clara Garcia, foi Marinês, irmã da vilã Malva, interpretada por Suzy Rêgo. Ela entrou na história na quinta-feira, dia 18, mesmo dia que terminou de gravar sua participação na trama. E acredita que cumpriu bem a função, que era se empregar na mansão dos Fritzenwalden e "tumultuar" o ambiente. "Marinês balançou um pouco o ‘coreto’ da Malva e da Delfina, que estavam merecendo que aparecesse alguém para aprontar com elas", diverte-se.
O convite inesperado não assustou a atriz. Ao contrário, Clara Garcia aproveitou o mesmo fim de semana no Rio para fazer observações e iniciar a composição da personagem que interpretaria já na segunda-feira seguinte. Para a atriz, na impossibilidade de se fazer um laboratório mais detalhado, um ator tem de lançar mão de outros atributos, como um olhar mais atento. "Na mesma noite eu fui tomar um chope e quem me atendeu foi uma menina com muito gingado, mascando chiclete, um jeito de falar… Na hora eu pensei: ?olha a Marinês aí", conta.
A partir da idéia, Clara diz que foi fácil construir uma Marinês algo malandra, com a leveza e a descontração pedidas por uma trama direcionada ao público infanto-juvenil. O clima da novela, aliás, é destacado pela atriz como lúdico e mesmo ingênuo, características que, segundo ela, andavam em falta em produções recentes. Fazer uma vilã até certo ponto divertida em uma trama adolescente, no entanto, não foi problema para a atriz, que tem no currículo diversas atuações no teatro infantil. "Eu poderia ter feito uma Marinês mais carregada. Mas não era bem isso. Ela é malandra, mas é engraçada, tem bom humor e acaba se derretendo pelas crianças", defende.
O bom humor da personagem, segundo Clara, é herança dela própria. Mas embora não veja dificuldade em emprestar uma característica a uma personagem, Clara Garcia reconhece que nem sempre é fácil a doação que o ator precisa fazer quando assume alguns papéis. Em 1998, no "remake" de Pecado Capital, Clara viveu a personagem Rafaela, uma clubber rebelde a ponto de raspar a cabeça. E, diferentemente do que era comum até então, a atriz dispensou o recurso da toca de silicone e raspou a cabeça de verdade. "Na hora foi muito cruel. Mas acho que nunca fui tão bonita como quando estava careca. Marcou muito a minha vida", avalia.