Jogar uma recém-nascida numa caçamba foi apenas a primeira das muitas vilanias cometidas por Félix (Mateus Solano) ao longo de Amor à Vida. Mas, na reta final da novela, o personagem tem se mostrado bastante disposto a se redimir de suas maldades. Apesar de aparentar inverossímil, o comportamento agrada o espectador e pode ser explicado por especialistas em televisão.
“Há uma parcela do público que acredita na possibilidade de recuperação do ser humano. Essas pessoas torcem para que o vilão se redima, aprenda a lição e ‘vire gente’. Sendo assim, dependendo da trama, essa virada pode ser eficaz”, analisa Ricardo Linhares, autor do remake de Saramandaia. A mesma reflexão é feita pelo novelista Silvio de Abreu (Passione) que completa: “Quanto menos maniqueísta, mais humano e menos radical, o vilão tem mais chances junto ao público”.
Ainda de acordo com Linhares, há dois tipos de vilões: os que se redimem e os que não têm salvação. Félix, personagem criado por Walcyr Carrasco, pode ser enquadrado no primeiro exemplo. Depois de armar algumas ciladas para a própria irmã e fazer inúmeras maldades para chamar a atenção do pai, César (Antônio Fagundes), reconheceu seus erros e encontrou a felicidade ao lado de Niko, o Carneirinho (Thiago Fragoso). No ar, o personagem já alavancou a média de audiência de 35 para 43 pontos, segundo dados do Ibope.
A explicação do sucesso pode estar no humor impresso por Mateus Solano ao administrador. “Não existe nenhuma fórmula nem bola de cristal para saber o que o público quer ou não. Mas, se o vilão tiver doses de humor e o ator for carismático, vai fazer muito mais sucesso do que se for frio e implacável. Doses de humanidade sempre ajudam qualquer personagem”, aponta Abreu.
O autor cita como exemplos Sinhozinho Malta (Lima Duarte), de Roque Santeiro (1985-1986), um vilão com humor e carisma, e Bimbo (Paulo Autran), em Guerra dos Sexos (1983). De fato, a mistura de humor e drama, na hora de construir vilões de novela que caem nas graças do público, é recorrente na tevê brasileira há alguns anos. “Assim, aos poucos, os vilões foram ganhando mais destaque e saíram das novelas regionais para as tramas urbanas”, afirma Linhares.