Giselle Ulbrich
Depois de três anos de pausa, após um conturbado período de exposição na mídia, a cantora Ana Cañas, 31 anos, está de volta aos palcos com um novo CD. A obra, inclusive, leva o nome de sua atual fase: Volta. Mostrando muito mais maturidade, Ana não está preocupada com questões mercadológicas da produção musical e se concentrou na sua arte. Para ela, pouco importa ter cinco fãs ou um milhão. O que lhe interessa é mostrar a sua obra, através dos vários estilos musicais.
Ana começou a vida artística tarde, quase na casa dos 20 anos, quando percebeu que sua vida era a música. Foi cantar jazz na noite paulista, até que gravou seu primeiro disco, Amor e Caos, em 2007. As pessoas a conheciam como uma cantora de jazz, até que o segundo disco dela, Hein?, de 2009, bagunçou a cabeça dos fãs devido a ela ter partido para outros estilos musicais no CD. Com isto, a obra quase não conseguiu se posicionar artisticamente. ‘Aqui no Brasil tem muito disto. Se leva muito a sério a questão mercadológica. O artista tem que se posicionar em relação ao estilo musical, pensar demais no marketing. Lá fora, não é assim. As gravadoras e fãs dão valor ao artista e sua arte mesmo. Se gostam de um determinado cantor, vão gostar dele executando qualquer estilo musical‘, analisou Ana.
Nesta época conturbada da carreira, Ana teve alguns acontecimentos pessoais que a tiraram do eixo. Uma delas foi a morte do pai. Para quem nunca tinha experimentado álcool até os 26 anos, ela passou a ter alguns vícios e chegou a fazer shows alcoolizada, o que a expuseram cansativa e negativamente na mídia. ‘Eu fui inconsequente, imatura‘, analisou e assumiu a artista.
Diante dos problemas pessoais e da confusão artística que se transformou sua vida, a cantora se viu forçada a sair de cena. Enquanto assistia a um DVD dos Rolling Stones, Exile on Main Street, em que o grupo musical se refugiou na França para parir o melhor trabalho da carreira (e também fugir dos altos impostos ingleses), Ana teve um estalo: era preciso se refugiar em algum lugar para dar rumos à sua vida: pensar que passo ia dar, o que ia produzir, como ia gravar? Enfim, resolver sua arte. ‘Agora estou mais tranquila, curtindo cada coisa do dia a dia. Não penso cada passo da carreira. Apenas vivo o momento‘, disse.
Reclusão
Ana passou três anos num sítio em Vargem Grande, no Rio de Janeiro. A grande parte do que se ouve neste CD Volta foi produzido lá, incluindo os sons dos grilos e do mato vazando entre voz e instrumentos. Como se sente mais à vontade nos palcos que no estúdio, ela mesma gravou tudo lá com auxílio de um só microfone. Tudo foi concebido inteiramente pela cantora, que não apenas compôs e cantou. Ela produziu, fez a capa com seu auto-retrato e levou o disco a Londres, para masteriza-lo no mesmo estúdio que Amy Winehouse trabalhou, o Metropolis Studio, sentada na mesa de som com Ian Cooper e dando a palavra final sobre todo o trabalho.
Volta tem uma mescla de estilos e idiomas muito grande. Tem jazz, rock, pop balada, reggae, uma levada bossa nova, além de ter composições próprias e de regravar grandes sucessos, que vão desde a romântica e clássica francesa La Vie en Rose, até o metal Rock and Roll, do Led Zeppelin. O disco ainda viaja por letras em português, espanhol, francês e inglês.
A mistura é eclética? Sim, bastante. Isso gera uma dificuldade em posicionar seu público? Para Ana, a resposta é não. ‘Ninguém acha que estou longe do que já vinha produzindo. É uma Ana que sempre existiu, mas eu nunca tinha gravado. Essa nova obra soa mais pessoal e verdadeira. E as pessoas estão percebendo que estou atrás da compreensão deste ’momento bagunça’ que passei e estão aprovando o que ouvem‘, diz a cantora, que consegui agregar ‘todos os públicos‘ neste terceiro disco eclético.
A cantora é casad,a com o artista plástico Flávio Rossi, com que está unida há oito anos e planeja filhos para daqui a algum tempo. Ele ajudou a produzir algumas fotos do CD, incluindo a que está bem ao centro do encarte, em que Ana aparece com uma pintura no rosto.
Exemplos
Certa vez, Ana afirmou numa entrevista que gostava das cantoras com um parafuso a menos. Exemplificou Amy Winehouse, Janis Joplin, Gal Costa e ainda explicou: ‘São pessoas que não tem ou tiveram medo de se expor. Elas vivem os seus demônios pela arte‘, disse Ana, que também se considera um pouco assim, fator essencial para transformar seu trabalho num espelho do que ela realmente é.
A cantora ainda não tem agenda de shows para Curitiba. Mas está empolgada em vir para a capital paranaense, mostrando seu show que está sendo produzido por Ney Matogrosso. ‘O conheci num Som Brasil Cazuza. Tivemos um °flerte° (profissional), até que uma revista me convidou para entrevistá-lo. Depois o convidei para produzir meu show e quase não acreditei quando ele topou. Tenho uma identificação visceral com a performática dele em palco. Ele faz tudo de maneira muito sutil, com muito bom gosto. Ele que construiu todo o roteiro do meu show, me ensinou muitas coisas‘, contou Ana, mostrando enorme carinho pelo cantor.
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