Há quatro álbuns, o Grizzly Bear sobrevive ao hype e a especulações com elegância. A banda nova-iorquina emplaca hits, mas estes não são fáceis. Fogem do óbvio dentro de um formato indie cujas possibilidades parecem esgotadas numa época de tendências relâmpagos e bandas instantâneas. Também não deixam de mergulhar em aventuras estéticas. Envolvem canções em sonoridades distintas, e evoluem admiravelmente disco a disco, sem alienar a base de fãs.
Tal integridade foi a marca do impecável show feito pela banda na noite de domingo, no Cine Joia. Ed Droste (vocais e guitarra), Dan Rossen (vocais, guitarras e teclados), Christopher Bear (bateria), Chris Taylor (baixo, saxofone, efeitos) e o membro auxiliar, Aaron Antz (sintetizadores), recriaram as detalhistas explorações do Grizzly Bear à risca. Aventuraram-se por veredas experimentais que dão vida às canções, e seduziram uma plateia numerosa com memoráveis melodias e refrões.
O repertório teve base no sólido disco “Shields”, lançado em 2012. “Speak in Rounds” e “Sleeping Ute” abriram o show com rock and roll de sutilezas harmônicas. Por volta dos 15 minutos, Ed Droste e o coro de fãs presentes exclamaram: “But I can’t help myself”, durante o refrão da segunda música. A partir deste momento, o Grizzly Bear havia garantido a noite.
“Cheerleader”, a belíssima canção do disco “Veckatimest”, de 2009, veio em seguida. Space rock e nostalgia combinados em um refrão delicado deram vida à faixa. Vastos panoramas de harmonias vocais criados entre os espaços deixados pelo baterista, Chris Bear, preencheram o domo do Cine Joia (com som muito bem equalizado, diga-se).
Na sequência, “Lullabye” anunciou uma chuva prazenteira de sinos e harpas, manipulados pelos efeitos do baixista Chris Taylor. Acordes maiores de um piano de armário, tocado por Aaron Antz sustentavam o experimentalismo da banda, até desaguarem em “Yet Again”, cuja letra de melancolia sem peso já estava na boca da plateia. A qualidade da voz de Droste, que se fortalece para entoar refrões ao vivo, é admirável. Todos os falsetes são alcançados com força, todo o intimismo reproduzido com clareza
Como é de praxe, Droste e Rossen ficaram impressionados com a recepção do público. “Todos dizem que o Brasil tem as melhores plateias. Mas só descobri isto hoje”, disse Droste, a certa altura do show. Com a plateia nas mãos, o Grizzly Bear passeou por hits como “Two Weeks” e baladas esticadas, como “Sun In Your Eyes”. O bis veio com “Knife”, que mandou todos para casa satisfeitos, debaixo de uma desanimadora garoa dominical. É a primeira viagem da banda ao Brasil (tocam nesta terça-feira, no Circo Voador, no Rio). As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.