O cearense Antônio Vidal da Silva, 46 anos, é projetista do Belas Artes desde 1990. Na última quarta-feira, ele e outros 31 funcionários do cinema foram convocados para uma reunião de emergência na sala Oscar Niemeyer (sala 6) – que aconteceu um pouco antes das 13h (horário de abertura das bilheterias). Vidal, o funcionário mais antigo, já pressentia o pior. Ao entrar na sala escura, ele viu André Sturm, cineasta e sócio-proprietário do Cine Belas Artes, com cara de quem queria chorar. Depois de 68 anos de existência, o cinema mais tradicional da cidade de São Paulo estava com seus dias contados. Sturm explicou que o proprietário do imóvel, Flávio Maluf (que não é parente de Paulo Maluf) não renovaria o contrato do cinema e que o local poderia se transformar numa… Loja. No mesmo papo franco, os 32 funcionários do cine receberam o aviso prévio e uma data fatídica: 27 de janeiro.
Embora a história de uma notificação entregue no dia 30 de dezembro já tivesse se espalhado entre os funcionários, a confirmação do fechamento e a data exata da última sessão produziu um desamparo, uma tristeza palpável entre os envolvidos. “Isso é mais do que perder o emprego. É perder um pouco da minha história”, disse Vidal. “Sabe do que eu lembrei? Lembrei que no Belas Artes eu já encontrei com políticos como o Lula (antes de ser presidente), José Serra, Fernando Henrique, José Dirceu… E nenhum deles pode fazer nada pelo cinema, nada”, completa o projetista.
A notícia caiu feito uma bomba nas redes sociais. Em pouco tempo, no microblog Twitter, o Belas Artes era um dos assuntos mais comentados no planeta. Cineastas também lamentaram. “A cidade perde mais um espaço cultural. Pessoalmente, fico muito triste porque não verei Bróder lá, onde assisti a tantos clássicos. É mais uma vitrine que se fecha para o cinema brasileiro. Se levarmos em conta sua localização, é mais triste ainda”, fala Jefferson De – diretor de “Bróder”, com estreia prevista para 18 de março.
Já o cineasta Fernando Meirelles é mais radical. “Infelizmente não há nada parecido com o Belas na cidade. O pior de tudo foi saber que o cinema vai sair dali para dar lugar a mais uma lojinha. Caramba, São Paulo já tem tanta lojinha. Não entendo esta compulsão por compras. Acho que nasci na época errada”, lamenta. As informações são do Jornal da Tarde.