Quando o deus Wotan e a valquíria Brunhilde subirem hoje ao palco do Teatro Municipal de São Paulo, não estarão rodeados pela paisagem rochosa que antecede a entrada no Valhalla, a casa dos deuses da mitologia nórdica. Vão se deparar com cenários que evocam uma sala de ex-votos de Aparecida do Norte, no interior de São Paulo – apenas um aspecto do diálogo entre a mitologia e a cultura brasileira que está no centro da concepção da montagem de “A Valquíria”, ópera de Richard Wagner, que estreia hoje.
Encenada pela última vez em São Paulo nos anos 50 (e, antes disso, nos anos 20), “A Valquíria” é a segunda parte da tetralogia “O Anel do Nibelungo”, estreada por Wagner em 1876. O retorno da obra, após tanto tempo, fez da produção a mais aguardada da temporada lírica deste ano.
“A Valquíria” narra a história do deus Wotan que, na busca por um mundo baseado no amor, corrompe-se e é confrontado com sua própria falibilidade. “O que a ópera aborda, fundamentalmente, são as relações humanas, a relação do homem com Deus, do homem com o poder. Na saga da queda dos deuses, do surgimento de uma nova raça livre, está também a discussão da nossa identidade cultural. O grande desafio é unir esse conceito moderno com o tradicional, o clássico que é minha formação como diretor especializado em ópera”, diz o diretor cênico André Heller-Lopes. “E quando nos damos conta de que estamos no mesmo palco que, em 1922, abrigou a Semana de Arte Moderna, que também discutiu à sua maneira a identidade nacional, o conceito se fechou na minha mente.”
O elenco da produção reúne cantores brasileiros e estrangeiros. A soprano escocesa Lee Bisset divide com a brasileira Eiko Senda o papel de Sieglinde; o tenor gaúcho Martin Mühle será Siegmund e a meio-soprano paulista Denise de Freitas, Fricka; o baixo americano Gregory Reinhart interpreta Hunding; Brunhilde será vivida pela também americana Janice Baird e o alemão Stefan Heidemann canta o papel de Wotan. Mônica Martins, Maíra Lautert, Keila de Moraes, Laura Aimbiré , Veruschka Mainhard, Lídia Schäffer, Adriana Clis e Elayne Casehr interpretam as oito valquírias, responsáveis pela famosa Cavalgada. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
A Valquíria – Teatro Municipal (Praça Ramos de Azevedo, s/nº). Hoje, 2ª, 4ª e 6ª, às 19 h; sáb., às 18 h. R$ 15 / R$ 70. Até 25/11.