Desfrutar das consequências que uma carreira artística gera, como fama e popularidade, não faz parte dos hábitos da atriz Beatriz Segall, 84 anos. Com 60 anos de carreira – que inclui 24 novelas e oito filmes -, ela comportava-se como uma novata entre jornalistas e companheiros de TV, para o lançamento de “Lara com Z”, nova série da Globo da qual ela faz parte do elenco. Sentada numa cadeira com o corpo levemente encurvado, segurava a bolsa junto do peito e trocava algumas palavras com os colegas Paulo Betti e Othon Bastos. Ela olhava para os lados e demonstrava não gostar da movimentação de fotógrafos. “Nossa! Mas por que tanta gente?”, perguntou.
Beatriz parece ter esquecido a agitação do mundo da TV. E não demonstra curtir os flashes e compromissos burocráticos. Na coletiva de “Lara com Z”, que estreia amanhã, na Globo, a primeira coisa que ela perguntou, assim que chegou, foi se tudo aquilo iria demorar muito.
O desconforto dela é compreensível. Apesar de se manter quase sem interrupção no teatro – agora ela está em cartaz, no Rio, com “Conversando com Mamãe”, ao lado de Herson Capri -, há 5 anos Beatriz não faz TV. Seu último trabalho foi em “Bicho do Mato” (2006), na Record. Ela diz que nem viu o tempo passar. “Fiz muito teatro. Não tive tempo de sentir saudades da TV”. Foi do diretor de “Lara com Z”, Wolf Maya, a proeza de trazer de volta à televisão a atriz até hoje conhecida pelo papel de Odete Roitman, na novela “Vale Tudo” (1988).
No Rio, onde mora, ela prefere ficar em casa. Não gosta, por exemplo, que a abracem para fotos. “Adoro ficar em casa, receber amigos”. É lá que Beatriz curte seus dez netos, de três filhos (Sérgio, Mário e Paulo), acompanha a Globo News e, às vezes, liga no canal Viva, que está reprisando o clássico “Vale Tudo”. Ela garante que não vê a novela todo dia, nem gosta quando alguém diz que a vilã Odete Roitman foi a personagem mais marcante da sua carreira. “Não confunda as coisas. Aquilo lá foi único. A Odete foi o grande personagem da televisão, não da minha vida”, diz a atriz. De fato, Beatriz está certa. Afinal, quando a vilã foi assassinada com três tiros no peito, mesmo sendo um sábado 24 de dezembro, a trama registrou 81 pontos de audiência no Ibope, com picos de 92.
Fazer uma atriz com tamanha experiência voltar a fazer TV não foi tarefa fácil para Wolf Maya. Para a atriz, não há nenhum papel que ela ainda tenha vontade de fazer para agregar à sua carreira. “Só gostaria de contracenar com pessoas como o Lima Duarte, que encontrei há muitos anos. Ele é um grande ator”, diz. É por esses motivos que TV, daqui para a frente, ela só irá fazer se for minissérie ou série. Ou seja, nada de novelas e gravações diárias. O autor de Lara com Z, Aguinaldo Silva, se diz deslumbrado por ter Beatriz no elenco da atração. “Ela é uma atriz maravilhosa. Que bom que aceitou o convite”, declara.