Após 3 anos sem fazer show, The Gilbertos lança CD

Uma das mais cultuadas bandas do Brasil não reside no País, não vive de música, quase não faz shows e raramente aparece nas revistas de música. No entanto, The Gilbertos, a banda-projeto do guitarrista Thomas Pappon (paulistano que vive desde o início dos anos 1990 em Londres e é hoje jornalista full time da BBC), tem uma carreira discográfica até que bem sólida: já lançou Eurosambas (2000), Deite-se ao Meu Lado (2004) e À Noite Sonhamos (2011).

Na semana que vem, num raro lance que mistura oportunidade com sorte, The Gilbertos lança em São Paulo um álbum inédito: Um Novo Ritmo Vai Nascer (selo Midsummer Madness). E o mais impressionante: após três anos sem tocar aqui, lança o disco com um show na cidade, na Sensorial Discos (Rua Augusta, 2.389), no dia 19, às 20h.

A sorte foi que, em novembro, a BBC enviou Thomas em missão profissional para ficar três meses no Brasil. O lance de oportunidade foi que Thomas já tinha gravado as bases de um novo álbum em seu estúdio doméstico, na capital inglesa, entre junho e julho. Foi só arrumar o resto do grupo.

“Nunca vivi de música. Continua sendo um hobby para mim, o que dá um certo trabalho”, diz Thomas, que integrou uma das lendárias bandas paulistanas dos anos 1980, Fellini, ao lado de Cadão Volpato.

Ao colocar o seu novo disco no Soundcloud, Thomas acabou definindo Um Novo Ritmo Vai Nascer como electrofolk – rótulo que define música feita com muito violão, sintetizadores, algum violoncelo, e que teve como epígonos artistas como Badly Drawn Boy e Four Tet, entre outros. “O rótulo foi mais para facilitar a busca, para dar pistas do tipo de música que está ali. Mas eu acho que tem a ver com o folk, especialmente o que se fazia no Brasil nos anos 1970, de grupos como A Barca do Sol, Novos Baianos e Secos e Molhados”, concordou.

Dessa vez, a formação do grupo The Gilbertos reúne Astronauta Pinguim (teclados), Lauro Lellis (baterista, ex-Tom Zé) e Ricardo Salvagni (baixista, ex-Fellini), além de Thomas Pappon (voz, violão e guitarras).

O grupo Fellini, embora de vida curta nos anos 1980, virou referência para bandas de diversas fases posteriores, como Chico Science. Sua música era diferente de tudo que se fazia na época, assim como as inspirações: Volpato curtia muito um grupo de Manchester chamado Durrutti Column, de som incatalogável.

Na época em que lançou seu primeiro disco pós-Fellini, em 2000, Thomas considerava que The Gilbertos ainda era uma espécie de continuidade do que fizeram com a banda de São Paulo. “De lá para cá, houve um distanciamento. No primeiro disco, eu ainda estava imbuído do espírito do Cadão, ainda tentava emular um pouco. Mas depois passei a cantar um pouco diferente, coisa que radicalizei nesse disco novo”, analisa.

O falsete na música nova O Rei da Canção prova que Thomas está certo: é um tipo de homenagem aos Secos & Molhados, que o guitarrista considera uma das três melhores de todos os tempos. “O título, Um Novo Ritmo Vai Nascer, tem a ver com a ideia de buscar um tipo de música que não existia antes, ou que as pessoas não fazem mais no Brasil.”

Sintetizadores Moog antigos, versos de uma psicodelia extemporânea e um ou outro sample: a nova aparição dos Gilbertos passará com a brevidade de um cometa, como sempre. No máximo, haverá um outro show no Sesc, anuncia Thomas. “Sou músico, mas é difícil discutir o que é o sucesso, qual é a razão da existência de uma banda”, ele filosofa. “Uns 50% das bandas que eu gostava nos anos 1980 eram bandas obscuras que sumiram. Guardadas as devidas proporções, talvez The Gilbertos entre um dia naquela categoria tipo Velvet Underground – grupos que não fizeram sucesso, mas mudaram a forma de outras bandas pensarem.”

THE GILBERTOS

Sensorial. Rua Augusta, 2.389, Jardins, tel. 3333-1914. Dia 19,

às 20h. R$ 15. www.sensorialdiscos.com.br

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