Fatima Rodrigues de Barros, de 61 anos, tem um histórico de saúde delicado e de superação. No final de 2007, recebeu o diagnóstico de câncer de mama. Após diversas cirurgias e radioterapia, foi operada por conta de um tumor benigno no revestimento cerebral e ainda passou por retirada de pedras no rim. Em meio a esses acontecimentos, ainda recebeu um diagnóstico de depressão.

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Em todos os casos, a consultora de vendas teve de se afastar do trabalho para fazer os tratamentos necessários. Além do apoio da família, contou com as orientações e acolhimento da equipe de assistência social da empresa na qual trabalha, o que, segundo ela, foi “fundamental”.

“Eu senti segurança, principalmente na indicação dos médicos que eles procuravam para eu passar. Esse apoio eu acho fundamental, saber que se você precisar de alguma coisa ou tiver algum problema, você pode ligar e a pessoa pode correr atrás”, diz. Sempre que retornou ao trabalho depois dos procedimentos, Fatima foi compreendida pela chefia. “A assistente social ligava para a gerente para explicar meu caso, para ela ter paciência.”

No caso das mulheres com câncer de mama, especialistas na área da saúde e no meio corporativo afirmam que esse acolhimento é positivo. Em uma rotina que envolve consultas ao longo dos meses, sessões de quimioterapia, radioterapia e cirurgias, além sintomas desagradáveis, ter um escape para as preocupações ajuda a manter o emocional e o psicológico mais estáveis.

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“Trabalho tem a importância de fazer a mulher se sentir útil, engajada, envolvida. Como a paciente está muito ‘engolida’ pelo câncer, se é do trabalho que ela gosta, se sente útil, é lá que ela consegue se desconectar”, avalia a psico-oncologista Luciana Holtz, presidente do Instituto Oncoguia. Ela defende acompanhamento psicológico nesses casos e negociação entre funcionária e empregador, que quanto mais personalizada, melhor o resultado. Para isso, ela diz, é importante que a mulher conheça bem seu tipo de câncer, o tratamento que fará e como o corpo vai reagir.

Retorno ao trabalho após câncer de mama

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Marina Miragaia, diretora médica e técnica da Saúde Concierge, aponta algumas dificuldades que as mulheres enfrentam no trabalho quando são diagnosticadas com a doença. “Muitas se queixam de dificuldade de comunicação com colegas e superiores e resistência no acolhimento, mas não é obrigatório ela voltar e expor sua realidade. Outras situações limitantes nas empresas são falta de oportunidade de jornada mais flexível e poder se ausentar para fazer exames”, enumera.

Aliás, existe uma lei que permite a homens e mulheres se ausentarem do trabalho, sem prejuízo no salário, por até três dias em cada 12 meses trabalhados para a realização de exames de detecção de tumor.

Uma pesquisa da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo comprova a dificuldade de retorno ao trabalho. Apenas 30,3% das mulheres diagnosticadas com câncer de mama voltam um ano após descobrir a doença. Embora 73% receba apoio do empregador, somente 29% relata ter recebido oferta de ajuste na rotina profissional. Marina afirma que “as empresas não têm estrutura para se adaptar a essas mulheres”.

Já uma pesquisa feita pelo LinkedIn com a Fundação Laço Rosa, divulgada no último dia 14, apresenta outras perspectivas do cenário. Apenas 31% das pessoas que têm ou já enfrentaram a doença continuaram trabalhando depois do diagnóstico. Mesmo empregadas, 28% apontou dificuldade para conciliar os efeitos colaterais do tratamento com a rotina profissional, 19% indicou falta de políticas de apoio e 12% não têm oportunidade de trabalhar de casa.

Marina pondera que não se pode culpar tanto as companhias. Além da falta de estrutura para fazer adaptações e concessões, não há conhecimento sobre os problemas enfrentados pelas pacientes. Para ajudar nisso, a Saúde Concierge oferece um serviço de gestão de saúde às empresas, em que identifica as necessidades dos funcionários e sugere melhorias que beneficiem os dois lados. “Sempre entendendo cada fase da doença, as limitações do momento e os anseios da pessoa. Sempre buscamos adaptar a realidade de trabalho para que se integre melhor”, comenta a diretora.

Um exemplo simples que Marina dá é o de uma mulher que, por conta do câncer, tinha falta de ar e não conseguia subir dois níveis de escadas do local onde trabalhava, que não tinha elevador. O ‘problema’ foi resolvido mudando o posto dela para o térreo. “Esse processo de voltar ao trabalho faz parte do tratamento, fornecer estrutura, sentimento de pertencimento social, junto com questão financeira”, diz a diretora médica.

Questão financeira é essencial

O apoio e as adaptações são necessárias porque, em alguns casos, parar de trabalhar não é uma opção – conforme indicou 21% das mulheres na pesquisa do LinkedIn. A jornalista Karina Hollo é exemplo disso. Desde 2013 ela é freelancer e, paralelamente a ser diagnosticada com câncer de mama, o marido perdeu o emprego.

“Se eu não trabalho, eu não recebo. Tomei a decisão de contar para pouquíssimas pessoas, falei ‘vou ficar bem e vou trabalhar’. O trabalho me ajudava a colocar o pé no chão e olhar para frente quando eu ficava nervosa, me ajudou a me manter focada na cura”, relatou Karina durante o 6º Congresso Todos Juntos Contra o Câncer em um painel sobre direitos das mulheres antes e depois do câncer de mama.

A conversa foi promovida pelo Instituto Avon, que também apoia a causa e oferece oportunidades a suas funcionárias e serviços para a revendedoras da marca. Para quem é diagnosticada com a doença, a empresa proporciona subsídio de 100% do custo dos medicamentos adjuvantes (que auxiliam no tratamento) necessários para evitar agravos.

Na assistência médica, há isenção da coparticipação para consulta em consultório e exames para o tratamento específico relacionado ao câncer quando realizados na rede própria ou credenciada da operadora de saúde. Em caso de afastamento pelo INSS, a empresa fornece complemento salarial por seis meses.

A companhia também levanta a bandeira dos cuidados prévios e conta com um espaço de saúde com ginecologista e coleta de exames dentro do prédio administrativo ou da fábrica para as mulheres, que também estão presentes em todos os centros de distribuição da Avon. Para as revendedoras, o portal Energia Rosa traz informações sobre saúde, autoestima, direitos do pacientes e prevenção. Há também um treinamento online para que elas possam conversar com as mulheres sobre câncer de mama e um canal 0800 para se informarem sobre exames e tratamentos.