Apimentada doçura carioca na área

Assim que a carioca Isabella Taviani pronuncia as primeiras sílabas do primeiro verso – “Cale a boca!” – da faixa 1 – O Farol – do disco que leva o seu nome, recém-lançado pelo selo independente GreenSongs, a comparação é inevitável: timbre e interpretação são quase idênticos aos de Ana Carolina. Soa como se a mineira tivesse gravado uma espécie de tango.

Mas logo entra a balada Foto Polaroid, e a voz ganha novas nuances. Mais adiante, Isabella homenageia outra cantora de voz mais escura, Joanna, com uma regravação fiel de Momentos. À primeira audição, portanto, o CD não traz nenhuma novidade. A voz oscila entre Ana Carolina e Zélia Duncan, as letras (onze das 13 faixas do disco de sua própria autoria) falam basicamente de amor – do desabafo com cara de fim de linha de O Farol à açucarada De Qualquer Maneira – e os arranjos tampouco fogem do correto.

Mesmo assim, Isabella Taviani, o disco, tem bons momentos. Principalmente quando ela se arrisca pela música hispânica, como as batidas flamencas de O Farol e Castelo de Farsa ou o belo tango (!) Ivete. Aqui, amparada pelo violão de aço de Sérgio Chiavazzoli, o cello de Iura Ranevsky e o bandoneón de Ubirajara Silva, a cantora deixa aflorar uma faceta promissora da sua interpretação, com bons fraseados e vocalizes que tem um quê de… Shakira! – sem que isso signifique nenhum demérito para a brasileira. “Legal, descobri que sou fã da Shakira recentemente”, disse Isabella ao Almanaque semana passada, por telefone, da sede do Detran do Rio de Janeiro, onde trabalha com vistoria de trânsito.

E as comparações com a Ana Carolina, incomodam? Sim e não: “Por um lado eu fico feliz, pois eu acho a Ana Carolina a voz mais bonita da atualidade. O que me incomoda é a precipitação, é ouvir uma ou duas músicas e dizer que eu sou um clone da Ana… concordo que quando eu canto coisas mais agressivas, chego a regiões bem próximas às dela. Mas sou extremamente mais suave”.

Nem sempre: “Eu vivia me policiando porque achavam minha interpretação over, pois eu mexia muito os braços, tinha uma carga dramática muito forte. Aí eu assisti a um vídeo da Elis Regina, e o jeito dela peitar a câmera me mostrou que eu não tenho por que cortar isso, se essa sou eu. Comecei a me permitir a correr o risco que o palco oferece”.

Engatinhando na carreira “formal”, apesar dos mais de 15 anos de estrada por trás dos holofotes, Isabella por enquanto está preocupada em consolidar-se no estado do Rio. “Queremos fortalecer nossas bases por aqui, onde a música Foto Polaroid já está entre as dez mais pedidas na JB FM, para começar a entrar nos outros estados de uma maneira natural”. Enquanto isso não acontece, Isabella segue com seu trabalho no Detran. “Ainda preciso do meu ganha-pão”.

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