Francisco Anysio de Oliveira Paula Filho, 73 anos, ou simplesmente Chico Anysio, dispensa apresentações. Figura marcante do humor brasileiro, com 57 anos de carreira, Chico já criou e interpretou exatamente 209 personagens, publicou 17 livros e escreveu 18 roteiros para cinema, além de atuar como compositor e se dedicar à pintura. O polivalente humorista é daqueles que não perde a piada, mesmo quando é preciso falar mal. Atualmente fazendo apenas pequenas participações no Zorra Total, da Globo, Chico confessa que não concorda com os caminhos seguidos pelo humorístico dirigido por Maurício Sherman. “Fazer o programa é pior do que não fazer nada. Já falei para o Sherman que está muito ruim, mas ele continua achando que pouca roupa garante audiência”, dispara.
Sem papas na língua, Chico garante que não dedica muito do seu tempo diante da televisão e acredita que a falta de concorrência cria uma situação perigosa. Para o humorista, nenhuma emissora está realmente interessada em mudar o atual panorama da televisão brasileira. “O Sílvio Santos não quer nada, a Band não pode contar com o dinheiro do João Saad e a Record é uma igreja com uma programação, que fica entre a religiosidade e a criação”, classifica, acrescentando que, por isso, prefere manter a rotina de apresentações pelo País do espetáculo Eu Conto, Vocês Cantam. Mas Chico continua criando novos personagens para a televisão e revela que tem planos de apresentar um quadro dentro do Casseta & Planeta, Urgente!. Para isso, ele já tem pronto o personagem de Januário, que serviria para mandar alguns recados para o Presidente da República. “O bordão seria da música de Luiz Gonzaga: Luiz, respeita Januário”, adianta.
Dar vida a novos personagens, aliás, não é uma tarefa difícil para Chico. O humorista conta que passou a criá-los para não ficar conhecido apenas como mais um imitador de tipos. Ele chegou a ser proibido de participar de programas de calouros nas rádios do eixo Rio/São Paulo. “Eu sempre ganhava e durante algum tempo vivi desse expediente”, recorda. Chico ressalta que, logo no início da carreira, porém, nunca pensou em aparecer de “cara limpa” e que queria mesmo era ser reconhecido pelas suas criações. “Era uma maneira de não cansar o público. Quando um personagem já estava desgastado, inventava outro”, ensina. O humorista acrescenta também que nunca sentiu dificuldades na hora de interpretar, mesmo com personagens tão distintos entre si. “O mais fácil é a voz, por incrível que pareça. O gestual e os trejeitos são mais complicados”, revela.
De todos os personagens inventados e interpretados, Chico não esconde que tem um carinho especial pelo Professor Raimundo. Criado por Haroldo Barbosa, em 1952, para protagonizar o programa A Escolinha do Professor Raimundo, o personagem estreou na extinta Rádio Mayrink Veiga, do Rio de Janeiro. “Foi o que me abriu as portas do rádio e da televisão”, conta. O personagem, aliás, marcou a estréia de Chico na televisão, em 1957, na extinta TV Rio. E mais de 30 anos depois, o programa foi ao ar na Globo, entre 1990 e 1995, sendo novamente apresentado durante o ano de 2001. “O personagem rejuvenescia os humoristas antigos e possibilitava a consolidação dos jovens”, avalia.
O contrato com a Globo, que vai até 2009, é uma história à parte e começou em 1969. Chico foi convidado por uma rede de supermercados para estrelar, mensalmente, o Chico Especial. O programa foi ao ar durante seis meses, mas, sem patrocínio, o humorista foi dispensado. O problema foi resolvido depois de a emissora cancelar o contrato com Chacrinha. “O Boni, então, me ligou e pediu para que eu aprontasse um novo programa para estrear em menos de um mês”, recorda. Desde esse episódio, Chico já estrelou 12 programas diferentes, como o Você Tem Tempo?, Chico em Quadrinhos, Chico City, Azambuja & Cia., Chico Total, Chico Anysio Show, Escolinha do Professor Raimundo, Estados Anysios de Chico City, Chico Total, O Belo e as Feras e Zorra Total. O Chico City, porém, esteve durante sete anos na grade da emissora e apresentou alguns personagens marcantes, como Pantaleão, Popó e Salomé, entre outros. “Foi gratificante. Mas acho que o sucesso é um acidente de percurso”, pondera.