Aos 50, Travolta continua a impressionar

Los Angeles – Ele já foi um anjo, um assassino, um gângster, um cocainômano e um terrorista. Nas telas. Mas é impossível encontrar John Travolta em carne e osso em Los Angeles e não procurar nele a imagem de Tony Manero, o dançarino folgazão de Os Embalos de Sábado à Noite (1977). É mais ou menos como ignorar o Mickey Mouse na Disneyworld ou fingir não ver Fidel Castro na mesa ao lado no La Bodeguita. Tony Manero lançou a moda disco nos anos 70 e é um ícone da cultura pop do século 20. A apoteose coreográfica do pintor de paredes no centro de uma danceteria, ao som de Stayin? Alive, dos Bee Gees, foi copiada, macaqueada, chupada e tornou-se modelo para garotos do Brooklyn e de Xangai, de Tóquio e de Maringá.

John Travolta, aos 50 anos, não nega o personagem que tornou um signo de uma época no mundo inteiro. ?Mas eu acho que o personagem mais cool de minha carreira é Chili Palmer?, diz o ator, respondendo à pergunta da Agência Estado durante entrevista coletiva em Hollywood, na sexta-feira. Chili Palmer é o gângster free lance que ele viveu em 1995 no filme O Nome do Jogo (Get Shorty) e que está revivendo agora em Be Cool (que estréia no Brasil em 4 de março). ?Acho Chili Palmer mais cool porque ele é um personagem como James Bond, mais caricato. Sai de situações críticas sem desmanchar o cabelo e nunca se preocupa com nada. Gosto do gentleman que ele é, do jeito como resolve as coisas com inteligência e astúcia. Ele foi desenhado para ser cool? diz o ator.

A pergunta soaria irrelevante – quem é o mais cool dos personagens que ele fez ao longo de 32 anos de carreira? -, não fosse o fato de que Travolta está escrevendo sua biografia. ?Quero iluminar algumas coisas que ficaram esquecidas. Contar a minha história também pode me ajudar a entender certas coisas?, explica o ator.

Filho de um borracheiro de origem italiana e de uma dona de casa irlandesa (que teve o jovem John aos 42 anos), ele já estava no palco aos 18 anos, num show na Broadway. Fascinado por aviões, ele pilota o seu próprio Boeing 707 e uma aeronave Gulfstream e voa 400 horas por ano. Tem também uma coleção de Ford Thunderbirds, que dirige pessoalmente. Mais importante: é considerado um grande boa-praça por todos os colegas de profissão.

?John faz todo mundo envolvido no filme ficar à vontade. Ele faz questão de envolver todo mundo, de criar um clima agradável e descontraído? , elogia o diretor F. Gary Gray. ?John tem essa coisa de agir como um pai, de incluir os mais novos?, diz o ator Cedric The Entertainer.

Um sujeito família, parecem dizer todos as testemunhas. Travolta está casado com a atriz Kelly Preston, com quem tem dois filhos: Jett, de 12 anos, e Ella Bleu, de 4 anos. É um artista que alterna momentos de grande domínio das técnicas de ator com filmes de segunda linha, que dá grandeza a um thriller político de Brian DePalma (Um Tiro na Noite) e se enfia em roubadas como Broken Arrow, mas que nunca perde a aura de mito – seja num ou noutro. E que tem sempre posições inequívocas sobre o que quer que queiramos saber.

DiCaprio

?Acho que Leonardo DiCaprio já foi afortunado por ter sido indicado para o Oscar. Mas eu prefiro as performances de Clint (Eastwood) e Morgan (Freeman), ambos no filme Garota de Um Milhão de Dólares?, diz ele, sobre a corrida pela estatueta de melhor ator da Academia de Hollywood. Música? ?Gosto de Beatles e Elvis Presley. Gosto de Paul, Jorge e Ringo, mas não tanto de John?, continua Travolta.

Sentada à esquerda de Travolta, está a atriz-cantora Christina Milian, sua protegida (de Chili Palmer) em Be Cool. Além dela, o filme tem uma constelação de astros: Harvey Keitel, The Rock, Andre 3000 (da dupla Outkast), Steven Tyler (da banda Aerosmith) e a estrela Uma Thurman (que contracena com Travolta pela primeira vez desde Pulp Fiction, de Quentin Tarantino). ?Quase perdi a fala quando tive de atuar com todas essas estrelas, pessoas que eu admiro muito?, diz Christina. ?Mas foi tudo maravilhoso, especialmente com John?, derrete-se a jovem estrela.

Ambos apresentaram dois prêmios Grammy em Los Angeles e Christina ainda cantarou na festa. ?Atores geralmente são complicados uns com os outros. Mas com essa equipe aqui tudo correu às mil maravilhas?, elogia o veterano Travolta, o paizão, que experimentou pela primeira vez nas telas o desafio de interpretar um sujeito mais velho. Ele aparece assim em outro novo filme inédito (que ainda não tem data para estrear no Brasil), A Love Song for Bobby Long.

Nesse filme, ele interpreta um professor de inglês alcoólatra que se refugia em New Orleans para viver o seu crepúsculo melancólico. Ali, conhece dois garotos que vão dar novo sentido à sua vida. O ator aparece com o cabelo grisalho, mais envelhecido pela maquiagem. ?Conheci diversas pessoas com problema de alcoolismo ao longo da minha carreira. Vi de perto essa espécie de gangorra, de momentos de euforia e decadência. Sabia que um dia encararia esse desafio.?

Mas e quanto ao fato de envelhecer tão drasticamente em cena? Como Travolta, eterno dínamo do dancefloor, encara isso? ?Na tela, não tenho medo de envelhecer. Mas quando eu vejo que tenho mais 25, 30 anos pela frente? Eu tenho filhos. Eu gostaria de viver para sempre, vê-los casados, tendo seus próprios filhos, sendo felizes?, disse Travolta.

Ele também se anima quando tem de falar sobre a canção Sexy (de Tom Jobim e Vinicius de Moraes), que escolheu para dançar com Uma Thurman em Be Cool. ?Sou fascinado por música brasileira. Quando eu e o diretor fomos escolher a canção que eu dançaria com Uma Thurman no filme, pensamos que deveria ser algo cool, para combinar com o estilo de Chili Palmer, mas também algo contemporâneo. Um samba, uma bossa. Aí, lembrei dessa gravação do Black Eyed Peas?, conta. No filme, o brasileiro Sérgio Mendes aparece tocando piano enquanto o grupo toca sua versão de Sexy, e há ainda outras duas canções brasileiras na trilha sonora.

John Travolta, como Chili Palmer, está em outdoors por toda Los Angeles, por toda Nova York, por toda a América. No cartaz, todo de preto, está sentado numa poltrona com um olhar durão sob uma inscrição: ?Impressione-me. Você tem 5 segundos.? Não sei quanto a nós, mas quanto a ele, bom, ele já nos impressiona por mais de três décadas e, pelo pique, não vai parar tão cedo.

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