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Aos 19 anos, Chico Bernardes inicia seu próprio caminho musical

Corria à boca pequena a história de mais um Bernardes, que não Martim, o vocalista do trio paulistano O Terno, e que na época (segundo semestre de 2017) havia acabado de lançar seu disco solo, Recomeçar. “O garoto se chama Chico”, dizia um. “Tem uns 18, 19 anos, parece”, disse outro. Na rede, só duas músicas disponíveis para audição, Vago e Do Seu Lado, ambas em voz e violão (com arranjos bastante elegantes, por sinal), com o som de passarinhos a cantar ao fundo. Chico é Francisco, o caçula de Maurício Pereira e Lucila Bernardes, irmão de Tim e de Manuela Pereira. A partir desta quarta-feira, 4, também Chico Bernardes, o músico, o artista, o rapaz que, aos 19 anos, vai encarar um público só seu.

A apresentação no Bona, casa localizada no bairro de Pinheiros, não é a estreia do rapaz. Ele, guri que só, tocou para os colegas do colégio, no recreio, a canção Vago, sua primeira composição, criada aos 15 anos. Também mantém um projeto de folk, ainda sem nome definido e, em abril de 2017, fez o show de abertura de uma noite capitaneada pela banda de amigos chamada Baços.

Ao telefone, Chico fala como se fosse acostumado às entrevistas. É didático ao explicar sua formação musical, iniciada a partir da introdução de alguns dos artistas que fazem sua cabeça até hoje, como as bandas Fleet Foxes e Beach Boys, sugeridas por um Tim Bernardes que já cursava a faculdade. Ele, então, estudava na sétima série. “Entendi os artistas aos poucos”, diz. “No primeiro colegial que consegui sacar o que ele estava me mostrando.”

Dentro de uma família tão musical, do pai que fez sucesso com o duo Os Mulheres Negras e tem, agora, uma carreira solo dona do status de cult, ao irmão mais velho que, na sequência, lançou dois discos eleitos como os melhores dos seus respectivos anos (Melhor do Que Parece, com O Terno, de 2016, e Recomeçar, a empreitada solo do ano seguinte), Chico criou uma linguagem própria. O rapaz cogitou cursar jornalismo, tal qual o pai, mas seguiu atrás da ideia que já estava plantada na sua cabeça, debaixo da vasta cabeleira encaracolada. Passou no curso de música e se dedica ao estudo do violão. É o instrumento (o segundo a ser tocado por ele, que se interessou primeiramente pela bateria do irmão Tim e, hoje, também toca piano) que conduz a experiência sonora que mais lhe agrada, o folk de Neil Young, Joan Baez e, principalmente, Joni Mitchell.

São esses alguns dos artistas que mais tocaram o rapaz ao longo dos anos – e as principais inspirações. “Percebi, ao longo das composições que fiz, como é importante colocar um sentimento meu dentro da música que estou escrevendo”, afirma. A canadense Mitchell, explica ele, está no seu “top dez, certamente”. “É muito sincera e bonita a forma como ela canta”, opina. “Esses artistas estão em um cenário folk, de voz e violão. E, para mim, isso é meio autossuficiente. É só preciso cantar e tirar uma atmosfera musical do violão.”

Vago e Do Seu Lado são duas canções cujas emoções transbordam ali. Em Vago, o rapaz leva a canção para uma discussão sobre o atrito e a discordância – e foi criada quatro anos atrás, em uma atmosfera tranquila em Serra Negra, interior de São Paulo, à beira das quentes discussões políticas que só ganhariam mais lenha desde então. Do Seu Lado é uma canção de amor – ou desamor. Trata de refletir sobre o vazio quando a outra metade se vai e, com elas, as lembranças. Por fim, a faixa celebra o que foi vivido e o que há diante de cada um.

Chico avisa que deve tocar de dez a 11 músicas na noite desta quarta e que, em agosto, vai se enfurnar no Estúdio Canoa, o mesmo usado pelo irmão Tim, com Gui Jesus de Toledo, para gravar o primeiro álbum dele. Como o restante da família o faz, Chico também mostra à mãe suas novas composições. “Às vezes, ela fala que preciso fazer músicas mais animadas”, ele diz. “Mas a música funciona como uma forma de me entender por dentro. Pegar o meu microcosmo e exteriorizá-lo na forma de áudio.” De tão certo do que fala quando trata da sua música, Chico se faz parecer mais velho do que é. Na verdade, é ambos. O mesmo guri que sabia do que falava, também estreava na função. “É a minha primeira entrevista”, ele anuncia, tímido e aliviado, ao fim da ligação.

CHICO BERNARDES

Bona. Rua Álvaro Anes, 43,

Pinheiros. Tel. 3812-8400.

4ª (4/7), às 21h30. A casa

abre às 19h30. R$ 30

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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