Uma história ao contrário. Para conseguir fazer teatro, o diretor Rodrigo Portella decidiu empreender um percurso na contramão do senso comum. Abandonou o Rio de Janeiro – metrópole que é um dos eixos da produção nacional de artes cênicas – e resolveu refugiar-se em Três Rios, uma cidade de 70 mil habitantes no interior fluminense. “Sentia que, no Rio, a oferta era tanta que se perdia um pouco o foco. Todo mundo estava sempre à espera de que algo acontecesse, um projeto, um convite”, diz ele. “De repente, percebi que Três Rios poderia me dar a oportunidade de construir um grupo: havia um teatro bem equipado, tempo e um grande envolvimento da população.”

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O resultado dessa aposta é o espetáculo Antes da Chuva, um dos acertos do Cena Contemporânea 2013 – festival internacional de teatro de Brasília, que ocorre até o dia 2. Desde que estreou, timidamente, na programação paralela do festival de Curitiba, em abril, a peça da iniciante Cia. Cortejo tem conseguido chamar a atenção. Mesmo correndo por fora e sem grande alarde, foi uma das surpresas do tradicional evento paranaense. Depois disso, já passou por Belo Horizonte e abre, no dia 9, temporada no Sesc Copacabana, no Rio. “Não vou dizer que foi fácil”, comenta o diretor, que divide a encenação com Léo Marvet. “Existe, sim, um preconceito com quem vem do interior. Mas está funcionando.”

Antes da Chuva trata do encontro de dois personagens: um menino e uma adolescente, alguns anos mais velha que ele, que vivem em um decadente povoado. Escrita pelo próprio Portella, a obra toma como apoio algumas referências literárias: o livro O Amor nos Tempos do Cólera, de Gabriel García Márquez – em que um jovem experimenta uma persistente devoção por uma mulher casada -, e o romance O Leitor, de Bernhard Schlink – que mostra a relação entre dois amantes mediada pela leitura de livros.

Mas a dramaturgia também embaralha episódios da história familiar dos atores e da população de Três Rios: reminiscências de amores fracassados, de desilusões, abandonos e esperas intermináveis. “Antes de fazer a peça, percorremos várias pequenas cidades da América Latina. E encontramos muito mais semelhanças que diferenças. Existe algo em comum em todas elas: a vida que se organiza em torno de uma praça, a precariedade dos serviços, as relações sociais.”

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A REPÓRTER VIAJOU A CONVITE DO FESTIVAL CENA CONTEMPORÂNEA

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.U

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