Era verão no Quênia. Em 2012, Angélique Kidjo, como embaixadora da boa vontade da UNICEF, visitava um vilarejo quando ficou diante de uma mulher grávida de cinco meses do primeiro filho. O encontro deixou marcas profundas na cantora nascida na República do Benin, país da África Ocidental. Emocionada ao deixar o local, Angélique carregou consigo a certeza ainda maior de que Eve, o mais recente disco dela, deveria ser gravado como uma homenagem a todas as mulheres africanas.

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Alguns meses antes de vir ao Brasil novamente, como atração do festival Back2Black, realizado na próxima sexta e sábado, dias 20 e 21, na Cidade das Artes, no Rio de Janeiro, a cantora recebeu a confirmação de que havia acertado o caminho escolhido no disco mais recente. No Grammy deste ano, ganhou o segundo gramofone da carreira, na categoria de world music, e aproveitou a chance de ter alguns segundos ao microfone para manter a homenagem às mulheres do continente onde nasceu, cujas batalhas diárias são para a sobrevivência delas e dos filhos. “Este álbum é dedicado às mulheres africanas, à beleza e resiliência”, disse ela, em Los Angeles. “Eu queria que o mundo visse as mulheres africanas não apenas pela lente dos estupros e da miséria, mas também pelo ponto de vista musical.”

Não é a primeira vez que a cantora beninesa é atração do festival Back2Black – ou que vem ao Brasil, destino dela por incontáveis ocasiões e cujo avô, por parte de mãe, nasceu na Bahia. Em 2009, a cantora esteve presente no palco do evento ao lado de Margareth Menezes. Desta vez, ela fará uma performance solo, a partir das 21h de sábado. Um festival dedicado à disseminação da música e cultura negra no País, o Back2Black chega à sexta edição estabelecido dentro do calendário nacional. Em 2015, como é possível ver na lista ao lado e na entrevista com Stromae (abaixo), a programação segue cheia de afrobeat e afropop, pronta para comemorar os 450 anos do Rio.

A história de quando visitou o Quênia foi contada por Angélique ao jornal O Estado de S.Paulo, por telefone, para ilustrar a ideia da cantora de como Eve era inevitável para ela. A primeira música do álbum, por exemplo, é M’Baamba, uma canção original queniana, quando a percussão típica é colorida por sintetizadores e a impressionante e já conhecida voz de Angélique.

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Eve, o disco, é uma referência clara a Eva, a primeira mulher da humanidade, segundo o Cristianismo, e cuja origem, já de acordo com a ciência, se deu na África. Junto com o disco, foi lançado também no ano passado a autobiografia Spirit Rising: My Life, My Music. O livro, segundo ela, percorre a infância e juventude em Benin, passando pela fuga para a França, quando ela viu o país tomado por marxistas. Na década de 70, ela era uma estrela local emergente e se viu obrigada a se tornar um meio de propaganda do governo. Em 1983, decidiu escapar e seguiu para Paris. Aos 23 anos, ela soube discernir se era o momento de lutar ou fugir. Optou pela segunda e saiu-se vitoriosa, enquanto os comunistas perderam para a democracia.

Questionada sobre a desvalorização da música com a existência da categoria de world music, do Grammy, Angélique é política. “Nem me deixe começar a falar sobre isso”, pede. Hoje, aos 54 anos e dois gramofones na estante, a vida da cantora ainda é regida pela questão: lutar ou fugir. E, nesta batalha, as mulheres africanas foram as vencedoras. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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