Existem críticos que dizem que a chanchada da Atlântida, como gênero de filme, era uma espécie de programa de rádio com imagem. Cantavam os astros e estrelas da Rádio Nacional, da Mayrink Veiga, naquela época em que as ondas do rádio, precedendo a TV, uniam o Brasil. Angela Maria pertencia a uma geração de cantoras míticas. Rainha do Rádio, como Marlene, Emilinha Borba. Mas ela tinha um perfil um pouco diferente.

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Talvez tenha sido pela origem humilde. Nascida Abelim Maria da Cunha, filha de um pastor, sonhava cantar no rádio, mas o pai se opunha.

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Cantou no coro da igreja, em programas de calouros e em dancings antes de virar princesa e, depois, Rainha do Rádio, com o pseudônimo de Angela Maria. O então presidente Getúlio Vargas colou-lhe o apelido de ‘Sapoti’ – seria doce como a fruta. O cinema chamou-a e, entre 1954 e 75, ela participou de nada menos de 21 filmes. Às vezes só cantava, mas em momentos pontuais, com diretores que fizeram história no País, foi solicitada também como atriz dramática.

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Em 1954, Alex Viany chamou a antiga operária de fábricas de tecelagem para um papel destacado em Rua Sem Sol, sobre garota que cai na prostituição, na tentativa de ganhar dinheiro para pagar a operação dos olhos da irmã. Viany era crítico e, influenciado pelo neo-realismo italiano, queria colocar o povo na tela. Glauce Rocha era a protagonista e, com ela, dividiam a cena, Dóris Monteiro e Angela Maria, ambas vindas do rádio.

Três anos depois, e também influenciado pelo neorrealismo, Nelson Pereira dos Santos fez Rio Zona Norte, que dava sequência à temática social do cultuado Rio 40 Graus. Grande Otelo fazia o compositor Espírito da Luz, que caía do trem e, morrendo, via sua vida passar em flash-back. Num dos episódios, ele procura a famosa Angela Maria, estrela do rádio, para lhe oferecer um samba. Angela aparece no próprio papel. Mais dois anos e ela estava de novo em outra obra engajada – Quem Roubou Meu Samba?, de José Carlos Burle, em que um compositor sem escrúpulos assume as criações de sambistas mais talentosos como se fossem dele. Burle, o mais esquerdista dos diretores da Atlântida, discutia os direitos autorais.

Em 1961, a chanchada já agonizava e logo começaria o Cinema Novo. Angela, no auge da popularidade, fez par romântico com o astro mexicano Antonio Aguilar em Caminho da Esperança/Rumbo a Brasilia, de Mauricio De La Serna, coprodução com o México. Mais 12 anos e, em 1973, integrava o elenco – cantando – de Portugal, Minha Saudade, comédia de Mazzaropi. Em 1979, com João da Baiana, participou do documentário curta Maxixe, a dança perdida, de Alex Viany, que marcou a despedida do diretor.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.