A noite foi de Ang Lee e "O Segredo de Brokeback Mountain", que levou quatro dos sete Globos de Ouros que disputava. Mas o prêmio de melhor atriz coadjuvante para Rachel Weisz acabou ganhando a atenção do público brasileiro. "Fiquei extremamente feliz pela premiação da Rachel. Ela está mudando sua carreira e isso vai ajudá-la", declarou à Agência Estado o brasileiro Fernando Meirelles – que concorria ao Globo de Ouro de melhor direção pelo belo trabalho em "O Jardineiro Fiel", que também disputava como melhor filme – sobre o prêmio de coadjuvante concedido para a atriz britânica por sua atuação como militante que é morta ao investigar o uso de cobaias humanas por uma indústria farmacêutica na África.
Rachel, que está grávida de cinco meses do diretor Darren Aronofsky e já era apontada como uma das favoritas para o Oscar de coadjuvante, agradeceu a Meirelles, que recusou atrizes como Nicole Kidman para o papel. "Eu divido esse prêmio com Ralph (Fiennes) e Fernando Meirelles, um diretor muito talentoso e um grande humanista."
A festa de entrega do Globo de Ouro, prêmio concedido pela Associação de Críticos de Cinema Estrangeiros de Hollywood e tradicionalmente considerado uma prévia do Oscar, ocorreu no hotel Beverly Hilton e foi mais uma vez palco dos desfiles de astros e estrelas que no dia 5 estarão desfilando seus outros modelitos na entrega do Oscar. "A festa é um pouco longa, mas vale a pena. Me senti muito feliz por estar indicado entre tantos bons diretores", contou Meirelles, que terminou a noite satisfeito. "Não tínhamos muitas expectativas em relação a um prêmio para mim ou para o filme. Lendo a imprensa americana, percebe-se que este será o ano de Ang Lee. Ele é boa gente além de ser bom diretor; merece", contou o brasileiro, que concorria, além de Ang Lee, com ícones como Woody Allen, George Clooney e Peter Jackson.
A consagração de "O Segredo de Brokeback Mountain" e "Johnny e June" volta o olhar para a chamada ?América Profunda?, o extremo interior dos Estados Unidos. O filme de Ang Lee fala do amor entre dois caubóis e o de James Mangold conta a saga de Johnny Cash, ícone da música country norte-americana. "Brokeback" levou ainda o prêmio de diretor, canção, para o argentino Gustavo Santaolalla, e de melhor roteiro. O western gay concorria, mas não levou os prêmios de melhor atriz coadjuvante (Michelle Williams), trilha sonora (Santaolalla) e ator dramático (Heath Ledger). Já "Johnny e June" levou todos os três prêmios que disputava: filme, ator e atriz para filmes musical ou comédia. A cinebiografia de Johnny Cash garantiu a Joaquin Phoenix o Globo de Ouro de melhor ator e a Reese Witherspoon o de melhor atriz.
Em um exercício de análise, pode-se afirmar que a noite também consagrou a temática GLS. Bem mais politizada e menos conservadora que os membros da Academia, a crítica estrangeira destacou os esforços de atores, atrizes e diretores em abordar questões como o amor gay vivido por Heath Ledger e Jake Gyllenhaal em "Brokeback". Ganhou destaque também a história de um travesti prestes a fazer uma operação para troca de sexo que descobre que tem um filho que se prostitui nas ruas de Nova York no drama "Transamerica", de Duncan Tucker, protagonizado por Felicity Huffman, que levou o Globo de Ouro de atriz dramática e também brilha na série "Desperate Housewives" (melhor série de comédia). A trajetória do jornalista assumidamente gay Truman Capote rendeu a Phillip Seymour Hoffman o Globo de Ouro de melhor ator no longa "Capote", de Bennett Miller. O filme conta os bastidores da confecção do clássico da não-ficção "A Sangue Frio", que consagrou Capote como um dos maiores ícones do jornalismo investigativo. O ótimo Hoffman bateu Ledger e é um dos favoritos ao Oscar, prêmio que o tiraria da lista de ?eternos coadjuvantes?.
A temática política também teve seu espaço com as indicações de "Munique", de Steven Spielberg, "Boa Noite e Boa Sorte", de George Clooney e "O Jardineiro Fiel".
O público brasileiro já pode começar a fazer suas apostas para o Oscar. "O Segredo de Brokeback Mountain" estréia dia 3; "Johnny e June", dia 10; e "Capote", dia 17. "Transamerica" ainda não tem data de lançamento. Além de conhecer os favoritos, o Brasil vai poder torcer por uma indicação de "2 Filhos de Francisco" a melhor filme estrangeiro. Meirelles também faz suas apostas: "Para o Oscar as maiores chances são mesmo da Rachel, da montadora Claire Simpson e talvez do roteirista Jeffrey Caine. Veremos.