Mortos no mesmo ano, Andy Warhol (1928-1987) e Alex Vallauri (1949-1987), criador do popular grafite da “rainha do frango assado” estão juntos no mesmo espaço, o Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM). O museu, onde Vallauri fez sua primeira exposição individual, em 1970, aos 21 anos, abre na terça-feira, 15, (para convidados) uma grande retrospectiva sua e uma exposição de Warhol travestido, fotografado pelo norte-americano Christopher Makos, em 1980.

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Por estranha coincidência, Warhol conheceu os grafites de Vallauri, que viveu em Nova York entre 1982 e 1983, espalhando seus desenhos pelas paredes dos edifícios e do metrô da metrópole americana, onde se tornou amigo e parceiro de dois artistas de rua que depois ficariam famosos, Jean-Michel Basquiat e Keith Haring, ambos apresentados por Makos a Warhol – para sorte deles.

Vallauri, morto aos 37 anos, ganha mais espaço no MAM, até porque se trata de uma retrospectiva completa, que tem desde sua primeira aquarela até os últimos trabalhos, passando pela reprodução de sua sala especial na 18.ª Bienal de São Paulo, realizada em 1985. São 170 obras em técnicas e suportes variados selecionadas pelo curador João Spinelli, também autor de um livro sobre o artista, “Alex Vallauri – Graffitti” (Editora Bei). Spinelli, que estudou Comunicação Visual na Faap ao lado de Vallauri, conseguiu obras raras do artista para expor no MAM, garimpadas entre amigos e colecionadores. Ao contrário do amigo Basquiat, que, apadrinhado por Warhol, foi parar na melhor galeria de Nova York, Vallauri penou para bancar seus grafites, comprando tintas com o dinheiro de seus trabalhos para a indústria de confecção (Levi’s, Fiorucci) e fazendo bicos aqui e ali.

Citado no livro do respeitado crítico e curador britânico Edward Lucie-Smith, “Art Today”, Vallauri, nascido na cidade etíope de Asmara, de mãe judia e pai católico, veio para o Brasil no ano em que os militares tomaram o poder. A citada aquarela da mostra foi feita aos 15 anos, em Santos, onde a família se estabeleceu. Cinco anos mais tarde, ele já trabalhava como monitor da Bienal, onde iria expor pela primeira vez suas gravuras, em 1971. A retrospectiva mostra a evolução desse trabalho, das xilos às serigrafias, passando pelos vídeos que fez em Nova York, documentando suas ações como grafiteiro – e também como ativista político (Vallauri era militante antinuclear).

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Spinelli conta que o primeiro grafite feito pelo artista foi uma enigmática bota preta que aplicava nas esquinas de paredes brancas, ao voltar ao Brasil em 1977, depois de se especializar em artes gráficas em Estocolmo. “Ele foi pioneiro em muitos suportes, entre eles o da arte postal, e já fazia instalações antes de serem assim batizadas”, lembra o curador. O trabalho com carimbos (adquiridos de uma fábrica à beira da falência) remete ao ‘objet trouvé’ de Duchamp, mas sua matriz é pop – influência, claro, da época em que viveu, marcada justamente pela serialização da imagem por Warhol. Vallauri enviava aos amigos postais com o carimbo da bota preta sobreposta aos edifícios das metrópoles.

“Depois vieram a luva e as figuras dos quadrinhos, como Mandrake, além de cantores pop como Freddie Mercury e Madonna, culminando na rainha do frango assado”, conta Spinelli. Crítico do ideário da classe média, Vallauri grafitou muros com secadores de cabelo, bidês e geladeiras, enfrentando com muito humor o kitsch. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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ALEX VALLAURI – MAM (Parque do Ibirapuera, Portão 3). Telefone 5085-1300. Inauguração: 4ª (17); 10h às 17h30. R$ 6. Até 23/6.