André Whoong havia prometido parar de beber. Era fim de 2015 e o ano seguinte parecia ser menos cinza do que foi quando ele lançou o disco de estreia, 1985. A primeira canção do álbum fazia a promessa que tanto se ouve de jovens que comemoram seus 30 anos e passam a sofrer com as dores de cabeça das noitadas em claro e com aqueles nós difíceis de desatar quando o assunto é relacionamento amoroso. Whoong acabou errando em dobro.

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“Foi um ano difícil, não é?”, analisa o músico sobre o ano passado. Seu grito de independência musical veio como um pop ardido, melancólico, como 2016 acabou por se mostrar. Por isso, teve pressa. Para rebater a falta de cor que acinzentou o ano passado, Whoong colocou logo na praça o seu segundo disco.

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O nome do trabalho, que será mostrado neste sábado, 28, na Casa do Mancha, é uma provocação. Justo Agora, embora não seja seguido de um sinal de interrogação, foi a frase ouvida pelo músico de 30 anos de conhecidos ao dizer que lançaria o segundo álbum um ano depois da estreia. “Ué, mas justo agora?” Talvez não fosse a jogada mais certeira dentro do mercado fonográfico, mas, atualmente, quem liga? Artista independente, cujo disco sai pelo selo Rosa Flamingo, da amiga e parceira de tantas músicas Tiê, e é distribuído pela Warner Music, Whoong achava que o fim de 2016 merecia ganhar as luzes néon que ele apresenta neste álbum.

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São as luzes das noites de Tóquio que primeiro instigaram o artista a compor uma nova safra de canções tão opostas às melancólicas e embebidas em nostalgia de 1985. Do outro lado do globo por 15 dias, Whoong e Tiê deixaram as férias para mais tarde, agendaram shows e se encararam pelo contraste das luzes de prédios e painéis com o negrume do céu japonês. De forma metafórica, Justo Agora é isso: um banho de luz de todas as cores na escuridão e de como somos, nós, pequenos diante de tudo isso.

É ali que se deita, por exemplo, a canção de abertura de Justo Agora. 12 Milhões dá início ao disco com um pop que não sabe se sorri ou se chora. Whoong se declara: “Mais de 12 milhões de pessoas moram em São Paulo, mas eu só consigo pensar em você”. Na segunda estrofe, ele troca o “consigo” por “quero” e abandona a calma – ele tenta, mas não consegue, resistir à urgência de saber se aquela pessoa especial, a tal dentre as outras 11.999.999 da cidade, lhe quer tanto quanto ele.

Sintetizadores e a roupagem trazida dos anos 1980 também são herança de terras nipônicas. Whoong conta que ao voltar do Japão de “cabeça fresca, como sempre ocorre após as viagens”, passou a investigar o pop japonês produzido na época em que nasceu. Descobriu a obra de Haruomi Hosono, compositor japonês versátil ao extremo, capaz de produzir grandes temas com o trio de música eletrônica Yellow Magic Orchestra ou canções folk com o quarteto Happy End.

A todo momento, Justo Agora transita entre o “eu” e o “todo mundo”, numa corajosa tentativa de tirar o foco de dentro de Whoong e bater diretamente no peito de quem quer que aperte o play e ouça o trabalho. Se em 12 Milhões, Whoong canta o macro, na música que dá nome ao disco ele vai para o micro, para o íntimo, para um coração (o dele?) arrependido pelos disparates lançados por uma língua solta demais. “Meu primeiro disco era sobre paixão”, ele avalia. “E a paixão tem mais questões, sofre-se mais. Amor, que é o meu segundo álbum, é outra coisa: sabemos que encontramos a pessoa certa.” Ele completa: “Depois de um ano difícil, precisava colocar esse amor para fora.”

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.