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Anavitória ainda canta o amor, mas agora dói

Tinha uma pureza ali, nos versos de Ana Caetano, a metade compositora do duo Anavitória, formado ao lado de Vitória Falcão, na última faixa do disco de estreia da dupla nascida em Araguaína, no Tocantins: “A cama tá reclamando/A casa te chamando/Vem logo me ver/Tô te esperando entrar/Não precisa bater”, cantam as duas, Ana e Vitória, em Nos, faixa que encerra o álbum de 2015.

Inocente. Singelo. A beleza reside na simplicidade de uma cama que, vazia, chama por alguém que não está lá. Mas a doçura dos vocais dobrados, das cordas acariciadas do violão sugeriam mais um atraso da figura sobre quem cantam do que uma ausência definitiva.

Mas isso foi lá em 2015 e essas canções foram escritas por Ana Caetano quando ela passava dos 15, 16 anos de idade. Inocência e a candura de quem ainda precisava viver grandes amores e suas consequentes desilusões faziam da estreia do duo, agenciado pelo empresário de Tiago Iorc, um bem-vindo otimismo frente à música brasileira mainstream que pensava e sentia pouco.

Curioso é perceber, dois anos depois, quando o segundo álbum delas, “O Tempo É Agora”, chegou de surpresa, na última sexta-feira, 3, a inocência se perdeu um tanto. Ainda são Anavitória, mais otimistas do que qualquer outra coisa, mas suas canções agora sofrem. Porque nem tudo são flores, pés descalços e camas preenchidas, afinal.

A começar por Ai, Amor, música responsável por abrir O Tempo é Agora (produzido por Moogie Canazio e, novamente, por Tiago Iorc). Cantam, juntas ou separadas, sobre a espera. De novo. Agora, a porta não deve abrir, o outro alguém não vai chegar. “Ai, amor/Será que tu divide a dor/Do teu peito cansado/Com alguém que não vai te sarar?/Meu amor/Eu vivo no aguardo/De ver você voltando, cruzando a porta”, diz o refrão, mais uma vez escrito por Ana Caetano – uma compositora, aliás, cada vez melhor: sem depositar peso demais nas metáforas, tratando de sentidos e sentimentos.

O Tempo É Agora também expande o escopo sonoro das duas garotas de 23 anos, acrescenta mais camadas às canções – estas, por sua vez, também mais densas. Amar é bom, afinal, mas Anavitória percebe, como a gente, que às vezes dói.

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