Anatomia de um fracasso

Quando uma emissora investe numa produção, o retorno está na atenção do público, que por sua vez atrai os anunciantes. Em muitos casos, busca-se seguir fórmulas consagradas, em outros, aposta-se em alternativas inovadoras para atrair o telespectador. Porém, não existe receita para o sucesso e não é toda novidade que cai no gosto do público. Há sempre o risco de aquela “idéia genial” simplesmente não dar certo.

Na procura por uma fórmula vencedora, as emissoras passaram a entender que os “reality shows” eram infalíveis. Após o sucesso da Casa dos Artistas, do SBT, e de No Limite e Big Brother Brasil, ambos da Globo, acreditou-se que era só repetir o formato que o resultado se refletiria na audiência. Porém, o mau desempenho de O Jogo, na Globo, e do Conquistador do Fim do Mundo, do SBT, prova que não existe receita pronta para seduzir o telespectador.

Globo apostou na mistura de reality show com dramaturgia e não conseguiu êxito. O Jogo, inspirado no Murder in a Small Town X, da Fox – um grande sucesso nos Estados Unidos – não agradou ao público brasileiro. A estréia rendeu uma média de 25 pontos de audiência à emissora e os dois episódios seguintes caíram, sucessivamente, para 17 e 15 pontos. “O programa é uma experiência nova e somente uma emissora como a Globo poderia apostar neste empreendimento. Artisticamente, estou satisfeito com o produto”, defende o diretor Boninho. Antes da estréia do programa, o discurso era diferente, mas já vislumbrava a possibilidade de um fiasco. “Estou apostando muito no sucesso desse produto. Mas trabalho na tevê é feito de erros e acertos. Não sei o que vem pela frente”, declarou o diretor, quase profético, por ocasião do lançamento de O Jogo. Para reverter o quadro, a emissora investe na interatividade, com o público opinando, por telefone 0300 – ou seja, pago por quem liga -, sobre o suspeito que deve ser inocentado ao final de cada capítulo. Se não servir para levantar a audiência, pelo menos ajuda a reduzir o prejuízo. Mas a participação de telespectador não interfere nos rumos do “game”.

Já no SBT, o Conquistador do Fim do Mundo não conquistou a audiência. Seguindo o espírito aventureiro de atrações como o No Limite, da Globo, o programa coloca em disputa competidores de diversos países. Na época do lançamento, o apresentador Celso Portioli via na participação dos brasileiros um ingrediente para a atração ser um sucesso. “Espero que crie uma grande comoção. Nós queremos desenvolver a vontade de ver o Brasil vencer”, empolgava-se. Isso não ocorreu e o Conquistador segue para a reta final na Patagônia, Argentina, sem perspectivas de mudanças significativas.

Até novelas

Experiências mal sucedidas não se limitam aos “reality shows” e atingem até mesmo as novelas – o produto televisivo mais popular no País. Na Globo, o horário das seis tornou-se uma “dor de cabeça” desde o fim de O Cravo e a Rosa – que ficava na faixa dos 35 pontos e está sendo reexibida no Vale a Pena Ver de Novo. Atualmente, Agora É Que São Elas repete o insucesso de produções como Coração de Estudante e A Padroeira, não conseguindo chegar sequer aos 30 pontos no Ibope. Apesar disso, o autor Ricardo Linhares se diz satisfeito com o resultado. Ele considera que houve uma divisão do público por causa dos programas sensacionalistas das outras emissoras. “Não houve queda da audiência. Na verdade, este é o horário mais concorrido da tevê”, valoriza.

Jovens e infantis

Na Band, a contratação de Marcos Mion foi uma tentativa de resgatar a audiência jovem – perdida após a saída de Luciano Huck para a Globo. Mas a irreverência do apresentador não funcionou com o sucesso dos tempo da MTV. Inicialmente batizado de Descontrole, o programa trocou de nome para Sob Controle e, nem “apelando” para duas belas assistentes de palco, funcionou. Mion perdeu o horário para o Claquete, de Otávio Mesquita.

Outro universo que está em dificuldades é o dos programas infantis. A outrora chamada “rainha dos baixinhos” Xuxa despencou na audiência, e hoje se contenta com uma média em torno dos seis pontos. Após um início em que alcançou 19 pontos, o perfil educativo de Xuxa no Mundo da Imaginação não segurou o público. Mesmo com os elogios de educadores e terapeutas, o programa sofreu críticas por parte dos pais, devido a quadros polêmicos – como uma bruxa com hábitos nada educados. A saída para Xuxa pode ser buscar novos ares e ela já tem uma proposta para levar o programa para o Telecinco, da Espanha.

Tropeços que ficaram na história

Atrações de sucesso sempre convivem com projetos que não correspondem às expectativas. Não faltam exemplos na história recente da tevê brasileira. A oitava “Casseta”, Maria Paula, viu sua primeira experiência na Globo fracassar. Em 93, a emissora lançou Radical Chic, baseado na personagem de Miguel Paiva e protagonizada por Andréia Beltrão. Maria Paula, que comandava o auditório, considera que não foi possível unir o feminismo da personagem com os adolescentes na platéia. “Eram dois lados muito legais, mas na hora de juntar não deu certo”, afirma a artista que deu a volta por cima e hoje serve de “colírio” no Casseta & Planeta, Urgente.

O apresentador Cazé Peçanha não teve a mesma sorte que a colega. Assim como Maria Paula, ele saiu da MTV para a Globo e esperou 15 meses para estrear o Sociedade Anônima. O programa ia ao ar após o Sai de Baixo e durou nove edições. Acabou voltando para a emissora musical. “Trabalhar na Globo foi uma experiência que prefiro esquecer”, esquiva-se.

A atriz Carla Regina tem em Brida, da extinta Manchete, o trabalho que gostaria de apagar da lembrança. A trama, inspirada na obra de Paulo Coelho, não repetiu o sucesso do escritor, nem manteve a audiência das novelas da emissora. Foi interrompida por ocasião da falência da Manchete. “Brida era pra ter sido um impacto muito grande, se soubessem fazer e tivessem recursos”, lamenta a atriz que está em Malhação-Múltipla Escolha, onde vive a professora Ana Paula.

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