Após o anúncio de sua saída do Ministério da Cultura, Ana de Hollanda “está muito bem, segura dela mesma e de que fez um bom trabalho”, diz a cantora Miúcha, irmã de Ana. “Acho que houve uma campanha orquestrada contra ela, feita por gente de outros interesses de dentro do Ministério da Cultura.” Ana de Hollanda ainda não se pronunciou.
Para Miúcha, a gestão da irmã causou incômodo a alguns grupos, que não detalhou. “Não acredito que tenha sido uma campanha do governo ou da imprensa, muito menos que tenha partido da Marta. Mas fica suspeito falarem tão mal de alguém, uma coisa queixosa, e quando você vai ver do que se trata, não tem motivos.”
Sua avaliação da administração Ana de Hollanda à frente do ministério é de que “fez um trabalho legal, muito coerente”. “A defesa dos direitos autorais, por exemplo, sempre foi um lance dela.” Sobre a reação do irmão mais famoso da família, Chico Buaque, à saída de Ana, disse: “A gente sempre se fala, mas não quero comentar sobre assuntos familiares”.
Miúcha também falou brevemente sobre os desafios de Marta à frente da pasta. “Não posso julgar se a escolha pela Marta foi correta, não sou a pessoa mais apropriada para isso. Mas a Marta é guerreira. Espero que que ela leve adiante essa pasta da Cultura.”
Interesses políticos
Para José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, ex-executivo da Globo e diretor-presidente da TV Vanguard, Marta “é ótima, mas substituição nessa altura do campeonato é apelar para o tapetão”. “Não se tira da área da Cultura uma pessoa do gabarito de Ana de Holanda para atender a interesses políticos”, disse.
O produtor Luiz Carlos Barreto também viu na troca de comando no Ministério da Cultura “vantagem política”. “A senadora Marta Suplicy [PT-SP], vamos dizer, tem espaço político mais denso, mais forte.”
Barreto, que produziu filmes como “Lula, o Filho do Brasil” (2010) e “Dona Flor e Seus Dois Maridos” (1978), era considerado um dos “escudeiros” da ex-ministra Ana de Hollanda.
Em 2011, no auge da crise de Ana com a reforma da Lei dos Direitos Autorais, ele disse à coluna “Mônica Bergamo”, da Folha de S.Paulo, que “o cinema entrará na briga” ao lado da irmã de Chico Buarque. “Ela está apenas querendo discutir melhor a questão dos direitos autorais no país. Estão querendo intrigá-la com o Lula ao dizer que ela quer desmontar tudo o que ele fez na área”, afirmou à época.
Barreto atribuiu a saída de Ana aos “tempos muito tumultuados”. Para o produtor, Ana de Hollanda “entrou pela porta da frente e vai sair pela porta da frente, honrando a tradição da família dela”.
O escritor Luis Fernando Verissimo foi outro que, ouvido pela reportagem, endossou a gestão da ex-ministra. “Eu sempre achei que ela ia bem, não tinha nenhuma crítica. Para mim, ela não merecia ter caído.”
Apoio à Marta
Entre as mensagens de apoio a Marta, destacam-se a do cineasta Fernando Meirelles. “Cai Ana de Hollanda do ministério da Cultura e sobe Marta Suplicy. Ela é uma mulher culta e boa de briga. Sorte na gestão!”, escreveu o diretor de “Cidade de Deus”.
O ator José de Abreu, que interpreta o Nilo de “Avenida Brasil” e é um dos críticos mais ferrenhos da gestão Ana de Hollanda, declarou que “Marta está muito determinada” e que ele havia ficado “muito contente com o que ouvi dela”.
O ator declarou que “só o tempo vai dizer os malefícios que essa passagem [de Ana de Hollanda] causou”. “Nunca entendi essa nomeação. Mas é hora de olhar pra frente, o pior passou.” Segundo ele, em conversa com Marta, ela se mostrou disposta. “Ela está com a faca na boca para encarar a missão.”
O sociólogo Emir Sader, pivô de um dos imbróglios que envolveu Ana enquanto ministra, ao ter a nomeação para a direção da Casa Rui Barbosa no Rio sustada depois de chamar a então ministra de “autista”, em entrevista à Folha de S.Paulo, também declarou apoio à Marta.