Uma das grandes vendedoras de CDs e DVDs deste século e colecionadora de mais de uma dúzia de hits-chiclete, Ana Carolina estava com saudade de escutar suas músicas tocar nas rádios.
“Eu gosto de entreter a massa com as minhas canções. O disco anterior (‘N9ve’, lançado em 2009) era mais sofisticado. Foi superbem aceito pela crítica, mas o público se assustou um pouco. Fui muito atacada. As pessoas mandavam e-mail dizendo ‘não entendi nada!'”, conta a cantora, que na sexta-feira, 31, estreia, no Citibank Hall paulistano, o show do novo CD, #AC.
Com participações de Esperanza Spalding, John Legend e Daniel Jobim e uma parceria sua com Gilberto Gil, N9ve não foi mal. Duas músicas foram parar em novelas da TV Globo, caminho certo para o sucesso. E as vendas ficaram no patamar de trabalhos anteriores, levando-se em consideração que foram lançados em plena era da pirataria.
“Agora estou em outro momento, mais solar, quero voltar para o rádio. Gosto muito de ser uma cantora que se apresenta para muita gente, e, ao mesmo tempo, me sinto livre para fazer um clipe com o Chico Buarque, que é tido como um cara superculto, com o Guinga.”
Com Chico, gravou Resposta da Rita, 46 anos depois de A Rita, faixa do primeiro LP do compositor. A personagem sem coração volta dando a sua versão para o fim do romance, chamando o ex de dramático. Guinga fez a melodia de Leveza de Valsa para Ana escrever a letra, e virou ator no clipe da música, dirigido por ela.
Com DJ no palco, o show passa menos pelo lirismo e mais pela sensualidade de faixas como Pole Dance, Esperta, Libido, Bang Bang 2. Cheio de programações eletrônicas, #AC convida à pista de dança – embora seja puxado, nas rádios, pela romântica Combustível, tema do falso amor de Aline por César em Amor À Vida e um exemplar bem característico do cancioneiro de Ana Carolina.
“Vai ser algo diferente de tudo que esse público que me acompanha há 15 anos já assistiu, uma coisa que ninguém nunca me viu fazer”, ela promete.
Ano passado, quando divulgava o CD, Ana disse que queria fugir das baladas – subgênero que a consagrou desde o estouro, em 1999, com a poderosa Garganta e as meladas Nada Pra Mim e A Canção Tocou na Hora Errada. No disco seguinte, de 2001, viriam Quem de Nós Dois e Confesso, depois Encostar Na Tua, É Isso Aí (com Seu Jorge), Simplesmente Aconteceu.
Os fãs provavelmente ouvirão todos esses sucessos no show, e mais Rosas, Elevador e Cantinho, além de boa parte das faixas de #AC.
“Fiz um apanhado das músicas de todos os meus discos. E tem também três músicas que nunca cantei e ninguém está esperando. As pessoas vão tomar um susto. Não sei se vai ter muita balada, não…”, provoca.
As antigas ganharam novos arranjos. Algumas estão irreconhecíveis às primeiras notas, segundo Ana, que dessa vez será vista mais à guitarra do que ao violão.
A banda que a acompanha na turnê (depois de São Paulo, ela segue pelo Brasil para depois partir para Angola e Portugal) tem Pedro Baby na guitarra, Edu Krieger (coautor de cinco das 12 músicas do CD) no baixo, Carlos Trilha nos teclados, Leo Reis, na bateria e percussão, e ainda o DJ baiano Mikael Mutti, produtor musical que acumula experiências com John Legend e Stevie Wonder.
“Ele é muito moderno: toca percussão com joystick de Wii, que é um negócio sensacional que ele inventou. Ele é um DJ que é músico de verdade”, explica, animada.
REFLEXÃO
A chegada dos 15 anos de discos provocou reflexões e satisfação na cantora mineira, que se iniciou profissionalmente na música aos 18 anos, em barzinhos de Juiz de Fora. Hoje são mais de cinco milhões de discos vendidos, mais de 20 músicas em trilhas de novelas.
“Com a música popular, você passa a fazer parte da vida das pessoas. Estar com esse novo show, ensaiando há 40 dias, com momentos pop, de samba, e dirigindo videoclipes me dá muita felicidade.”
Ana não chorou a suposta morte do videoclipe. Pelo contrário: com as novas tecnologias, acredita que os vídeos terão vida longa.
“Não vão acabar nunca. A gente tem muita imagem para mostrar na internet, embora grande parte da população não tenha banda larga”, ressalta.
Ela é cada vez mais protagonista da carreira. Além de produzir o disco (com Alê Siqueira) e conceber o show (a direção é de Monique Gardenberg), dirigiu clipes de quatro das músicas do CD.
O mais ruidoso foi Libido, divulgado esta semana. Sob uma chuva de purpurina, Ana Carolina e sete atores/modelos, moças e rapazes, aparecem se beijando e se lambendo indiscriminadamente, num clima meio Madonna, porém mais leve.
“Sou fã de Justify My Love, até tentei reproduzir uma cena. Eu ia filmar só os corpos, sem rostos. Mas depois eu pensei: ‘Quer saber? Perto do que a gente vê por aí até em canal de TV aberta, esse videoclipe, mesmo que seja escancarado, é água com açúcar.”
Ana não levanta o braço para bandeiras gays. “A minha esperança é que isso não choque mais. Adoraria ver o beijo gay na novela”, completa ela. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.