Todas as novelas estão planejadas na cabeça do autor. Mas, às vezes, dá zebra.

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Casais que tinham muitos motivos para dar errado têm feito os autores mudarem suas tramas. Quando o público começa a vibrar por um casal menos convencional, não tem jeito. E é cada vez mais comum isso acontecer. Casais improváveis, como Antônio e Débora, de Juliana Knust e Otávio Augusto, em Duas Caras, ou Renato e Mateus, de Humberto Martins e Mônica Martelli, em Beleza Pura, por exemplo, ganharam a simpatia do público. Renato está se interessando pelo funcionário que, na verdade, é a personagem Helena, travestida de homem. Com essa atração inesperada, a autora Andrea Maltarolli garante que tem recebido inúmeros pedidos para que eles se envolvam o quanto antes. ?Esse casal é citado em todas as pesquisas espontaneamente. O mais engraçado é que o público quer Renato com Mateus, mesmo antes de Renato descobrir que Mateus é uma mulher disfarçada?, diverte-se a autora.

Em Duas Caras, além das desigualdades raciais e sociais terem despertado o interesse do público, com o ?engomadinho? Barretinho e a doméstica Sabrina, de Dudu Azevedo e Cris Vianna, outra união quase excêntrica foi bem aceita na trama. Antônio e Débora, vividos por Otávio Augusto e Juliana Knust, surpreenderam os atores pelos abismos, como décadas de diferença etária e um perfil absolutamente oposto. ?Não imaginava que o Aguinaldo fosse preparar uma história tão divertida e surpreendente para ela?, comemora Juliana.

Além dos estranhos amores, alguns casais, a princípio, causam repulsa. Algumas vezes pela sensação de impunidade, no caso dos vilões que se envolvem com mocinhas, por exemplo. Jackson e Joana, de Heitor Martinez e Maytê Piragibe, de Vidas Opostas, é um exemplo de união atípica nas tramas, onde o vilão consegue despertar uma atração na mocinha. De uma certa forma, foi como se ele tivesse sido ?perdoado? pelo público. ?O Jackson foi um elemento perturbador que, mesmo bandido, quase terminou com a protagonista. Eles conseguiram incendiar a imaginação do telespectador?, orgulha-se o autor da trama, Marcílio Moraes.

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O mesmo tem acontecido com o diabólico Marconi Ferraço, de Dalton Vigh, e Maria Paula, de Marjorie Estiano. Apesar de enganada e roubada pelo golpista, ela volta a cair nas garras do ex-marido espontaneamente. Segundo Aguinaldo Silva, a frase que mais tem ouvido ultimamente nas ruas tem sido ?Pelo amor de Deus, não mate o Ferraço?. Na verdade, existe cada vez mais permissividade e aceitação do público quando um casal bizarro demonstra muito afeto na relação. ?Todo mundo tem sua dose de humanidade. Se o casal não for caricato, o ficcionista pode investir seguro?, defende Aguinaldo.

Em contrapartida, os autores sofrem quando necessitam construir artimanhas nos momentos em que os casais previstos não dão certo, como foi o caso de Glória Perez em América. Na novela, Sol e Tião, os protagonistas de Deborah Secco e Murilo Benício, mostraram tamanha falta de entrosamento que a autora foi obrigada a fazer com que Sol se apaixonasse pelo insosso Ed, de Caco Ciocler. Em compensação, na mesma novela, poucos apostariam que a fogosa viúva Neuta, de Eliane Giardini, fosse fazer tanto sucesso com o peão Dinho, de Murilo Rosa. ?Aquela personagem foi muito feliz. Parece que ela existe até hoje para mim, feliz da vida com aquele bofe?, lembra, saudosista, Eliane Giardini.

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Alguns casais ganham tanto a simpatia do público que roubam a cena das novelas, como os atrevidos Bebel e Olavo, de Camila Pitanga e Wagner Moura em Paraíso Tropical, da Globo. Mesmo sem querer escalar a atriz para esse papel no início da trama, por achar a imagem de Camila Pitanga ?boa-moça? demais, o autor Gilberto Braga foi pego de surpresa. ?Eu tinha ficado apavorada no início. Mas quebrei meus preconceitos e vi que estamos num país onde muitos aplaudem o mau-caratismo?, critica Camila.