Na linguagem do Puzzle não são os elementos que determinam o conjunto, mas o conjunto que determina os elementos. A estrutura presente no romance A vida – modo de usar do escritor francês Georges Perec (1936-1982) sugeriu a ideia de fractal com que se constrói a narrativa da nova montagem da companhia A Armadilha, Os invisíveis, em cartaz até 24 de outubro no Teatro Novelas Curitibanas.

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Com texto e direção de Diego Fortes, a peça transcorre sobre uma trama fragmentada dividida em três blocos narrativos que se interligam. Os anfitriões recebem um casal de amigos na única casa de uma ilha, onde eles observarem a passagem de um cometa.

Os atores Alan Raffo, Diego Fortes, Ludmila Nascarella e Maureen Miranda interpretam todos os onze personagens, que vivem no tempo passado e presente com histórias que aos poucos se conectam em um quebra-cabeças teatral.

O trabalho trata de relações amorosas que, vagarosamente, vão se revelando uma trama de amor, morte e traição. “Não quero falar necessariamente sobre o triunfo do amor, mas tratar o amor como uma doença”, destaca o autor.

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O recurso literário do Puzzle motivou a construção da linguagem adotada pelo diretor, que, como uma montagem de um quebra-cabeças, há uma re-significação quando os pequenos fragmentos se agregam.

“A peça se desenvolve de trás para frente. No começo, o público não entende exatamente quem são os personagens ou o que fazem, mas no final as conexões do texto assumem um caráter legível. É uma trama de desvelamento”, explica Diego, cujo texto ainda flerta com o melodrama e com a vontade de falar sobre o vazio existencial.

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O cinema italiano dos anos 60 – especialmente A doce vida (1960), de Federico Fellini e A noite (1961) de Michelangelo Antonioni – são fortes fontes de inspiração na construção da narrativa.

“Esses diretores italianos falam sobre alienação e era justamente isso que eu queria dizer. A gente começa a descobrir coisas sobre os personagens, mas não há transformação neles”, diz o diretor. A peça ainda buscou referências na literatura dos escritores argentinos Júlio Cortazar, Jorge Luis Borges e Adolfo Bioy Casares.

O interesse do grupo em trabalhar com narrativas fragmentadas vêm desde Café Andaluz (2005), do dramaturgo espanhol Alejandro Kauderer. Em O esquema, apresentada no último Festival de Curitiba, Diego Fortes assinou a dramaturgia pela primeira vez.

O grupo tem duas montagens adaptadas da obra de Manoel Carlos Karam: Jornal da Guerra contra os Taedos (2009) e Bolacha Maria (2008). Com Os Leões (2006), do dramaturgo espanhol Pablo Miguel de la Vega y Mendoza, o grupo obteve boa repercussão no Festival de Curitiba.

Parceria

Diego contou com assessoria artística da dramaturga e diretora Grace Passo, do grupo mineiro Espanca!, na dramaturgia e direção de Os invisíveis. Os dois perceberam interesses em comum e decidiram fazer um trabalho em conjunto depois de se encontrarem em São Paulo no mês de abril.

O diretor começou a escrever a peça e Grace contribuiu na estruturação do texto e na escolha de linguagens. Devido à distância, eles faziam reuniões que duravam não menos que duas horas via Skype para discutir as minúcias da montagem.

Em agosto, Grace veio a Curitiba para fazer uma concentração artística de quatro dias com o grupo em uma chácara em Ponta Grossa. A dramaturga volta a cidade neste final de semana para participar de um bate-papo sobre o processo de criação após a apresentação de hoje.

Serviço

Os invisíveis.
De quinta a domingo, às 20h, no Teatro Novelas Curitibanas. Rua Presidente Carlos Cavalcanti, 1222 – São Francisco. Informações: 3321-3358. Ingressos: R$10.