Entre as inúmeras atrações do Festival de Cinema Latino-Americano de São Paulo, temos O Menino Peixe, de Lucía Puenzo. De Lucía já conhecemos o ótimo XXY, estudo interessante sobre questões de gênero, hoje mais ainda na moda.

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Menino Peixe não deixa de bater na mesma tecla: Lala (Inés Efron), jovem filha de um juiz, começa uma relação mais íntima com empregada da casa, a imigrante paraguaia Guayi (Mariele Vitale).

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O filme trabalha com temas tanto ousados como previsíveis, como o relacionamento homossexual e interclasses, depois investe um pouco no universo fantástico ao introduzir a tal lenda do menino peixe na história da dupla. Entra no melodrama, e traz também elementos de thriller quando o casal precisa levantar dinheiro em busca da casa própria e não dispõe de meios para tanto.

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Apesar de tantos elementos mesclados – o sexo, as relações de classes, o crime, o incesto, o fantástico, as tensões de vizinhança entre Argentina e Paraguai – a narrativa evolui bem na maior parte do tempo. Mesmo quando temos de nos concentrar para não perder o fio, porque dá saltos um tanto abruptos tanto no tempo como na localização geográfica.

A dupla protagonista funciona e tem química. Por outro lado, algumas situações parecem um tanto edulcoradas, ou pasteurizadas, como algumas cenas filmadas no submundo paraguaio e outras num presídio.

O filme tem impacto, sobretudo em determinadas cenas. E isso se deve ao carisma das duas intérpretes principais, de resto bem dirigidas. Não se pode evitar, no entanto, a impressão de que Lucía Puenzo teria feito melhor em simplificar a trama e não sobrecarregá-la de tantos desvios, reviravoltas e subtramas. Em nome da simplicidade teria obtido resultado melhor.

Ocorre que Puenzo adapta para o cinema seu próprio romance de estreia, que havia escrito quando tinha apenas 23 anos. A novela tem uma peculiaridade que não se conseguiria manter no cinema: o narrador é um cachorro que mantém um ponto de vista cínico e distanciando em relação àquilo que “conta”. Difícil conservar essa opção radical, de modo que a diretora-autora acaba por fragmentar a trama no tempo e no espaço, mas mantendo um eu narrador mais tradicional.

Trata-se de bom filme, que trata com honestidade do amor entre duas meninas, mas padece de clareza em certas partes. A soma entre aspectos favoráveis e problemáticos é positiva.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.