Amor e 2003: profissionais opinam sobre o amor

Enquanto em todos os anos o Natal diz ao mundo que o amor chegou, o novo ano é a grande surpresa para aqueles que buscam amar e ser amados. O desafio é o mesmo: que o amor seja eterno e que dure para sempre. Mas de que amor estamos falando? Do amor carnal ou do amor espiritual? Do amor a dois ou do amor a todos? Do amor tranqüilo ou da dor do amor? Existiria amor sem contradições?

Não basta dizer “eu te amo”. Luciano Leite, professor de Jornalismo da PUC/PR e da Unipar/Cascavel, afirma: procuro evitar resumir o amor apenas como uma relação a dois. Amor é mais do que isso, é muito mais do que simples palavras e por isso é que a frase Eu te Amo é mais séria e comprometedora do que parece. Lembro-me de um trecho da música Uma Canção de Amor, de Gonzaguinha, interpretada há muito tempo pela cantora Joana, que dizia assim: Uma canção de amor não é simplesmente aquela que fala de um beijo na boca ou de corpos rolando na cama. Também é aquela que canta do suor do trabalho… O comportamento, o trabalho, os sonhos, os objetivos, tudo isso engloba o amor e como fazer as coisas desejáveis com e por amor.”

Na Antigüidade, Sócrates denominava o amor de daimon, uma categoria de ser que habitava a faixa intemediária entre Deus e as pessoas. Platão considerava que o amor estimulava o indivíduo a caminhar em direção à sua verdadeira natureza, sedenta do belo, do bem e da verdade, um amor idealizado. Na Idade Média, Dante Alighieri (1265-1321), autor de A divina comédia, teve no olhar em Beatriz sua grande experiência de amor que lhe marcou o começo de uma vida nova. Luis Vaz de Camões (1525-1580), autor de Os lusíadas, questiona: Como pode o amor causar amizade nos corações humanos, se ele é tão contrário a si mesmo?

O amor é contraditório. Para Francilene Amazonas Pessoa, do departamento de Recursos Humanos da Bematech Ind. e Com. S/A, em Curitiba, “o amor é sentido e aprendido desde os primeiros dias de vida ao recebermos cuidado, atenção e amor por parte de quem cuida. Na minha percepção, o amor é uma energia que em alguns momentos é positiva e em outros é negativa. Positiva quando incondicional e negativa quando se busca no outro aquilo que falta em mim (ele é bonito, tem dinheiro, é inteligente, etc.). O amor é a suplência ao ser. Envolve vários outros sentimentos, como: carinho, ternura, ciúmes, ódio, inveja, etc. Sem amor, a vida torna-se vazia, sem sentido.”

Não há remédio para dor de amor. Na moral cristã, o amor platônico foi transformado em amor divino, ampliado para o amor aos semelhantes, incluindo a pessoa amada. A técnica em contabilidade Neuza Nauffal, que trabalha no Grupo Auxiliar Financeiro da Biblioteca Pública do Paraná, em Curitiba, afirma que “o amor é o mais forte dos sentimentos. Ele é doação, é renúncia, é dar sem pedir nada em troca, é ser feliz com a felicidade do outro. Embora seja digno e nobre, está intimamente ligado à dor, pois na mesma proporção em que nos eleva até o céu, nos faz sofrer quando proibido ou não correspondido. E para a dor de amor nem sempre encontramos remédio ou lenitivo que amenize esse sofrimento.”

Amor é dar a vida aos filhos. Arthur Hauer Neto, proprietário e relações públicas da Mutti, em Curitiba, afirma: “Acredito que o amor real, verdadeiro, está no sentimento de pai para filho. É a doação total, em corpo e espírito, pela qual não hesitamos dar nossa vida por esses anjos (filhos). A compreensão do amor está acima da mera e transitória existência humana. Como Jesus nos falou: Amai ao próximo como a ti mesmo.”

O amor é o conhecimento de si. Considerando que, como afirma Carlos Alberto Neves do departamento de vendas da Fujifilm-SP, no Paraná, “o mundo é como um espelho que devolve a cada pessoa o reflexo de seus próprios pensamentos”, e que “as dúvidas são traidoras e fazem perder o bem que se poderia conquistar”, torna-se importante o autoconhecimento. Com base num mito transmitido por Apuleio, poeta romano do século II d. C., o psicólogo James Hillman (2002) afirma que Eros e Psique (o amor e a alma) se requerem mutuamente. Alguém não consegue se envolver psicologicamente sem que o amor entre em sua alma.

O amor é um sentimento puro. O cirurgião plástico Jorge Wagenführ Júnior, da Clínica de Cirurgia Plástica Jorge Wagenführ Júnior, em Curitiba, afirma que “falar sobre o amor é o mesmo que tentar explicar a existência do ser humano. Por mais que tentamos decifrar, não chegamos a conclusões definidas. Poderia ser o tudo e o nada. Porém a certeza que temos é que o amor é o mais puro de todos os sentimentos.”

Mudar de concepção. O professor Luciano Leite acredita que “o Amor deveria ser ensinado ou falado com o cuidado que merece. Aprendemos que é difícil amar. Ora, se o amor for levado a sério, não é difícil. O amor merece mais atenção, pois só ele – e com ele – é que conseguimos atingir o que alvejamos. Amor é troca, é experiência, é atitude, é alegria, é saber compreender a tristeza, é tirar bom proveito do que a vida nos ensina. Muitas vezes temos receio de dizer eu te amo a um amigo, a uma amiga, a quem contribui com a gente. Isso é fruto do que aprendemos. Parece que dizer eu te amo desta forma é uma sugestão a algo comprometedor. Podemos mudar essa concepção. Por amor e para o amor.”

Zélia Maria Bonamigo

é jornalista, especialista em Mídia e Despertar da Consciência Crítica, membro do Instituto Histórico e Geográfico do Paraná.E-mail:
zeliabonamigo@uol.com.br

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