Amor de bom humor

tv41.jpgAdriana Esteves passou um bom tempo acreditando que era atriz de um só tipo de personagem. Depois de conquistar a primeira protagonista já na terceira novela, Pedra sobre Pedra, e viver seguidas mocinhas românticas, chegou à conclusão de que seu papel era ?falar baixo, chorar e falar de amor?. As coisas começaram a tomar outro rumo quando Sílvio de Abreu a convidou para viver a biscateira Sandrinha, de Torre de Babel. Graças a ela, Adriana acabou se rendendo à comédia e atualmente mistura as duas facetas em A Lua me Disse, na pele da batalhadora Heloísa. ?Quando descobri que era também uma gaiata, que tinha alegria e podia fazer rir, foi um oásis?, ressalta a atriz, num de seus raros arroubos de empolgação.

Adriana assegura que, aos 35 anos, está mais preparada para enfrentar a maratona de ser protagonista, que inclui carga horária extensa, grande volume de textos para decorar e a necessidade de ?representar? a novela. Para ela, as entrevistas costumam ser a parte mais penosa do ?pacote?. ?Só gosto de falar de um trabalho quando termina. Hoje entendo esta necessidade, mas antes não entendia?, pondera, com jeito sério. Um dos maiores orgulhos da atriz é justamente ter acumulado experiência antes de ver rarearem os bons papéis. ?Não tem nada como ainda conseguir fazer uma protagonista mocinha, mas com a experiência de uma mulher de 35 anos de idade e 16 de carreira?, valoriza.

Mas, segundo a atriz, foi a maternidade que a ajudou a valorizar ainda mais os bons trabalhos – ela é mãe de Felipe, de 5 anos, fruto do casamento com o ator Marco Ricca. ?Para eu sair de casa, tem de ser por um motivo muito sério, algo que eu ame muito?, justifica, com um largo sorriso. E, como não poderia deixar de ser, a relação com o filho serve, não raras vezes, de referência. Como na relação de Heloísa com o filho, Artur, vivido por Guilherme Vieira. ?Eles são bem parecidinhos: inteligentes, carinhosos, bem-humorados e cheios de tiradas surpreendentes?, enumera, com ares de mãe coruja.

P – De uns tempos para cá, você tem ?flertado? muito com a comédia, como em O Cravo e a Rosa e Kubanacan. É um gênero que lhe agrada?

R – Amo fazer comédia. É gostoso porque tenho afinidade com o gênero, vejo a vida de uma forma engraçada. Sou muito crítica com relação ao drama, não é qualquer coisa que me compra. É mais fácil com a comédia, porque adoro rir e embarco mais facilmente. Isso como espectadora e como atriz. Se tiver de fazer um drama, minha cobrança de que a cena seja realmente dramática é muito maior. Não é qualquer coisa que eu enxergo com olhar dramático, mas enxergo a maioria das coisas com olho cômico.

P – Mas você passou boa parte da carreira interpretando exclusivamente papéis dramáticos…

R – Acho que sou uma pessoa de muita sorte. Houve convites que não fui buscar e que, de determinada forma, conduziram minha carreira para outro lado. Quando o Sílvio de Abreu, a Denise Saraceni e o Carlos Manga me convidaram para fazer Torre de Babel, não sei de onde eles tiraram a idéia de que eu poderia fazer aquela personagem, uma biscateira, mazinha. Eu só tinha feito mocinhas, heroínas.

E ali descobri que gostava muito de fazer uma coisa que eu nem imaginava que soubesse fazer. Foi uma oportunidade que ganhei porque outras pessoas enxergaram isso em mim. A partir dali, uma série de outras oportunidades para o humor foram surgindo. Isso me abriu um outro caminho de atriz. Para mim, eu era uma atriz que falava baixo, chorava e falava de amor.

P – Na época de Renascer, as críticas por sua atuação como Mariana a fizeram até repensar a carreira. Você acha que hoje reagiria com mais tranqüilidade?

R – Por incrível que pareça, hoje ela é uma das personagens que eu guardo com mais carinho. Quando vi a novela no ?Vale a Pena Ver de Novo?, então, percebi o quanto era bom e o quanto fui injustiçada na época. Fica uma sensação boa, porque penso: ?Não há nada como amadurecer?. Como eu chorei naquela época! Hoje, olho e falo: ?O quê? Vocês estão loucos, isso é bom?. Era bom sim.

P – E de que forma você acha que, ao longo dos anos, sua opção profissional influenciou sua vida, e vice-versa?

R – Uma carreira de 16 anos é bastante longa. Nesse tempo, passei por todas as transformações normais de uma mulher que vai dos quase 20 aos 35 anos. Acho que tenho uma característica muito forte na minha personalidade, que se encaixou perfeitamente nesta carreira. Desde pequena, quando fazia balé clássico, tenho uma disciplina muito grande. Sempre tive facilidade de plantar para colher, para fazer uma história, uma carreira. Isso foi essencial para construir uma trajetória sólida como atriz e eu tive graças à minha formação, à minha criação e minhas características pessoais. Todo mundo fala que sou alegrinha, doce, mas sou uma pessoa extremamente séria. Se eu fosse advogada, médica, se trabalhasse no mercado financeiro, teria a mesma seriedade. Posso até parecer uma menininha frágil, mas sou um trator.

Carreira começou com um empurrão da sorte

Aos 20 anos de idade, Adriana Esteves foi uma das vencedoras de um concurso de talentos promovido pelo Domingão do Faustão, em 1989. Como prêmio, ganhou sua primeira personagem na tevê, a adolescente Tininha, de Top Model, escrita por Antônio Calmon e Walter Negrão. Em pouco tempo, já era uma das protagonistas de Pedra Sobre Pedra, exibida em 1992, na qual viveu a romântica Marina Batista, filha de Pilar Batista, personagem de Renata Sorrah. Desde então, a atriz interpretou diversas mocinhas, praticamente todas em produções da Globo. A única exceção foi a novela Razão de Viver, exibida pelo SBT em 1996. ?Sou muito feliz com a maneira como as coisas aconteceram na minha carreira. Tive sorte, mas ninguém se mantém se não for sério e não batalhar muito?, ressalta.

Entre os trabalhos favoritos da atriz, há desde protagonistas, como a geniosa Catarina de O Cravo e a Rosa, até participações que lhe custaram poucos dias de gravações. É o caso do primeiro episódio do seriado Mulher, no qual ela viveu uma jovem vítima de estupro, ou do episódio O Aborto, de Delegacia de Mulheres. ?O que me orgulha na minha trajetória é que cada coisinha é diferente da outra?, avalia Adriana. Recentemente, o fato de ser convidada para estrelar o especial Globo 40 Dramaturgia, deixou a atriz especialmente lisonjeada. Era a responsabilidade de contar 40 anos de história. ?Foi um prazer entrar naquelas cenas, contracenar com o Tarcísio Meira como a Glória Menezes, ou com o Fábio Júnior como a Glória Pires?, empolga-se.

Questão de escolha

 Se há uma coisa para a qual Adriana Esteves gostaria de ter mais tempo é o cinema. Em 16 anos de carreira, ela atuou apenas em As Meninas, O Trapalhão e a Luz Azul e Tiradentes. A atriz reconhece, no entanto, que todo o tempo que dedica à carreira tem sido consumido pela tevê. ?Como tenho uma carreira sólida na tevê, não sobra tempo de estar disponível para ser convidada?, conclui, conformada. Desde o nascimento de Felipe, a atriz acha que vai ficar ainda mais difícil ganhar assiduidade na tela grande. ?Agora, sempre que termino um trabalho em tevê, tenho vontade de não aceitar nada para passar o máximo de tempo com ele. E seria a hora certa de tentar mesclar com algo no cinema?, raciocina.

Mas Adriana não costuma se arrepender das escolhas que faz. Ela garante que só recusou papéis na tevê quando teve de escolher entre dois trabalhos. A exceção foi Babalu, a protagonista de Quatro por Quatro. Recém-saída de Renascer, onde viveu a polêmica Mariana, Adriana não quis aceitar o papel. Em 2003, retribuiu a gentileza do autor Carlos Lombardi, aceitando a Lola de Kubanacan, que já tinha sido recusada por Letícia Sabatella.

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