Um dos grandes pianistas de jazz da atualidade (muitos acham que é indubitavelmente o melhor), Jason Moran toca com sua banda estradeira, a Bandwagon, no Nublu Jazz Festival, nesta quinta-feira, 27, a partir das 21h, no Sesc Belenzinho. Moran, que ainda não completou 40 anos, transforma rap (Planet Rock, de Afrika Bambaataa) e música erudita (Auf einer Burg, de Schumann) em standards de jazz. O pianista falou por telefone ao jornal O Estado de S.Paulo.
A última vez que você tocou aqui foi com o quarteto de Charles Lloyd, dois anos atrás. Você tem algum novo disco com seu grupo Bandwagon?
JASON MORAN – Tenho pronto um disco inteiro com música de Fats Waller (1904-1943), que será lançado em setembro. Mas não foi com a Bandwagon, gravei com um grupo totalmente diferente. Com a Bandwagon tenho mais feito turnês e shows do que gravado. Estou num estágio de minha carreira em que estou mais preocupado em tocar à frente de pessoas do que ficar em um estúdio, fazendo um disco.
Você foi recentemente nomeado Conselheiro do Jazz do Kennedy Center. Acha que o jazz está vivendo uma fase boa, apesar da economia caótica?
JASON MORAN – Na Grande Depressão dos anos 1930, o jazz era extremamente popular. E essa popularidade vem caindo desde aquela época. Acho que a diferença vai de país para país, sobre qual o papel que a música representa. O Kennedy Center de Washington está determinado a saber como a América pode satisfazer seu desejo por excelência e quais os meios com que se pretende atingir essa excelência. E o jazz é uma expressão musical da excelência da América que alcança o mundo todo. Nós não temos cuidado tanto desse produto quanto deveríamos. Não só do jazz, mas de todas as artes. Tem de haver uma drástica mudança nos Estados Unidos para que possamos manter nossa reputação como exportador de artes criativas.
Vi no seu Facebook que você estava em estúdio gravando com Bill Frisell e Lee Konitz. É para esse álbum com músicas do Fats Waller?
JASON MORAN – Não. É para outra pessoa, um guitarrista de Copenhague que veio fazer um disco conosco. Eu não tocava com Bill Frisell há muitos anos e não tocava com Lee Konitz há um longo tempo, talvez uns 10 anos. Então foi bom ir para o estúdio de novo com eles para fazer música. Viver em Nova York é isso: sempre estão nos chamando para fazer algo em estúdio, todo mundo é próximo.
O guitarrista Jim Hall, que morreu recentemente, foi um mestre absoluto para muita gente. Foi para você também?
JASON MORAN – Ele foi a ponte entre o jeito tradicional de tocar a guitarra e a modernidade. O jeito que ele soava, o uso dos intervalos, o jeito que ele colocava as bandas para tocar, tudo isso era representativo do modernismo no que ele tinha de melhor.
Lee Konitz está com quase 90 anos agora. Como foi gravar com ele? Está bem ainda?
JASON MORAN – Está ótimo. Ninguém no mundo soa como Lee Konitz. Sabe, há algo tão puro no jeito como ele toca as melodias, ou mesmo quando ele toca apenas uma nota. Há uns dois anos, eu estava na Austrália e Lee Konitz apareceu, veio conversar comigo. Ele tocaria na noite seguinte. Mas na manhã seguinte, algo aconteceu com o cérebro dele, ele foi internado às pressas para uma cirurgia. Assustou todo mundo. Fomos ao hospital para vê-lo, parecia que nunca se recuperaria. Então, é admirável que continue tocando e repartindo sua música com o mundo todo. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.