Houve época em que a chegada de um novo filme de Jim Jarmusch provocava frisson entre os críticos e espectadores mais atilados. Já faz algum tempo que o autor mais cool do cinema norte-americano nos anos 1980 desperta reações mornas. Em outros tempos, Amantes Eternos seria saudado como evento. Jarmusch revê o cinema de gênero, reinventa o filme de vampiros. Ecos de True Blood, a série cult? “Me disseram que esses filmes dão dinheiro, estou precisando de algum”, brincou ele em Cannes, no ano passado.

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Um casal de vampiros – Adão e Eva, como os seres primordiais da Criação. Ele é melômano, vive em Detroit, cidade que vive os reflexos da crise econômica mas tem uma cena musical forte (e a música é essencial no filme). Ela, a primeira vampira hippie do cinema, reside em Tânger. Tom Hiddleston e Tilda Swinton fazem os papéis. “A literatura de vampiros vem da Inglaterra. Sempre achei que seria chique ter atores ingleses.” Num mundo que parece pós-apocalíptico, os amantes eternos vivem uma espécie de decadentismo gélido, convencidos de que o passado ‘era melhor’.

Em seu filme anterior – o suspense Limites do Controle -, Jarmusch prescindiu das palavras. Aqui, carrega na verborragia, fazendo com que seus vampiros dissertem sobre a vacuidade existencial e o fim da civilização. É como se Amantes Eternos integrasse a série Coffee and Cigarettes/Café e Cigarros, em que os personagens falam, sem parar. Adão e Eva são tão assépticos que chegam a se alimentar de sangue comprado no contrabando. A chegada de Mia Wasikowska subverte o equilíbrio sem sobrecarregar o erotismo – bem, um pouco.

Stranger than Paradise e Daunbailó estabeleceram a fama de Jarmusch como autor indie pós-moderno. Narrativas desconstruídas, personagens entregues ao abandono e à desesperança. Ele virou o cronista dos outsiders da ‘América’. Seus filmes de gênero não o comprometeram com o cinemão de Hollywood. Dead Man foi chamado de anti-western, Ghost Dog – O Caminho do Samurai, de anti-filme de gângsteres. Amantes Eternos, agora, é um filme de vampiros que não se assemelha a nenhum outro.

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O diretor, assumidamente, quis fugir à claustrofobia presente em quase todo filme de vampiros. O recurso, esclareceu, é válido quando a intenção é criar medo, mas não é seu caso. Ele quis que seus vampiros fossem abertos à cultura, às ideias.

Talvez Jarmusch esteja querendo falar sobre a inadequação de seu cinema num mundo em que ele parece estar perdendo espaço. O minimalismo do artista não perdeu o charme. Tudo e nada se equivalem. Mas, à força de querer reproduzir o desalento dos protagonistas, Jarmusch fez seu filme mais melancólico.

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