Música é poesia para a compositora e cantora Alzira E. A poesia é melódica e rítmica na escrita de arrudA. Parceiros desde o álbum anterior dela, “Alzira E.” (2007), são como linha e linho entrelaçados, se estimulam mutuamente em jorros criativos, como o que desaguou no ótimo CD “Pedindo a Palavra”. É o azeite mais refinado dessa parceria que Alzira e o trio formado por Du Moreira (baixo e teclados), Luiz Waack (guitarra) e Curumin (bateria) servem aos bons paladares hoje e amanhã no Sesc Pinheiros. Curumin também toca uma canção dele.
Paralelamente, arrudA trabalha com outro compositor, Peri Pane – no show de música, humor e poesia “Canções Velhas para Embrulhar Peixes”, que volta dia 8 de setembro no Auditório do Sesc Vila Mariana. Também editou o livro de poemas “As Menores Distâncias Podem Levar Uma Vida” (Edith, 60 págs., R$ 25), em que a questão do tempo (abordado na canção “Beijos Longos”) é predominante. Além de assinar as letras de “Pedindo a Palavra”, ele participou do CD de Alzira na fusão de uma composição dela (“Caos”), com um poema dele (“À Parte”), que recriam no palco.
Produzido pelo baixista Du Moreira, “Pedindo a Palavra” é o oitavo disco de Alzira. É talvez o que ela mais tenha chegado ao ponto essencial, em que a concisão da escrita de arrudA se alinha em melodias inesperadas e com instrumentação minimalista. Ao mesmo tempo são canções pop que cativam à primeira audição – como “Se Parece Com Você”, “Aprovei-te”, “Quasares”, “Olhos de Chico Buarque” -, e que encontram paralelo no trabalho de compositoras-cantoras da nova geração, como Andreia Diaz (ex-Dias) e Anelis Assumpção, que Alzira reconhece como herdeiras musicais.
A velha e inconclusiva discussão sobre o que é letra de música e o que é poema não cabe no caso de arrudA. “Não consigo ver diferença”, diz ela, que é antiga parceira da também poeta Alice Ruiz e musicou Cora Coralina. “Para mim a única diferença é se você é o poeta ou não. Minha poesia ter uma vocação musical é uma característica do meu barato, da minha linguagem”, diz arrudA. “Acho que a música veio antes da poesia na história da linguagem, mas não penso em música quando estou escrevendo.”
Filho da poeta Eunice Arruda, ele diz que apesar de viver rodeado de literatura desde a infância, a influência maior vem da canção, de gente como Caetano Veloso e Belchior. Como diz Celso de Alencar, uma das referências de arrudA, no prefácio do livro, a poesia é fruto da vivência. Para arrudA, “a matéria vem da experiência e da urgência, de uma angústia, mesmo que seja uma alegria.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Alzira E. e Trio – Sesc Pinheiros (Rua Paes Leme, 195). Tel. (011) 3095-9400. Hoje e amanhã às 20h30. R$ 3 a R$ 12. Com Du Moreira (baixo e teclados), Luiz Waack (guitarra) e Curumin (bateria)