Hilo Carriel nasceu em Manaus. Ainda criança, começou a estudar piano – e, aos 16 anos, na hora de entrar para a universidade, seguiu o conselho dos professores e se matriculou no curso de regência. Foi também com 16 que a alemã Ruth Reinardt se deu conta de que ser maestrina era o que desejava. Ela já tocava violino e oboé. Mas sentia a necessidade de pensar as partituras de um modo mais completo – e a regência lhe pareceu o caminho ideal a seguir.
Os dois estudantes de regência acabaram se encontrando na edição deste ano do Festival de Inverno de Campos do Jordão, no qual participam, ao lado de outros quatro jovens maestros, do curso de regência oferecido por Marin Alsop, diretora musical da Sinfônica do Estado de São Paulo. Trabalharam com ela ao longo das primeiras semanas do evento, que começou no dia 4 de julho – e, a partir desta semana, ganham novo professor, o costa-riquenho Giancarlo Guerrero.
Na tarde de sábado, Hilo, de 23 anos, e Ruth, de 25, conversaram com o jornal O Estado de S.Paulo pouco antes de subir ao palco da Praça do Capivari. À frente da Sinfônica de São José dos Campos, ele regeria os dois últimos movimentos da Sinfonia n.º 4 de Mendelssohn e ela, a abertura Genoveva, de Schumann.
“Tocar em uma orquestra, para mim, era antes de mais nada estar atenta ao que acontecia à minha volta, com os outros instrumentos”, diz Ruth, que hoje é aluna da Julliard School, em Nova York. “Aos 12 anos, formei também um quarteto de cordas. Durante os ensaios, cada um dava sua opinião de como deveríamos tocar. Mas, no final, eu achava que faltava uma visão única que pudesse abarcar as diversas possibilidades interpretativas e orientar de maneira mais focada a interpretação.”
Aos 16 anos, na França, participou de uma orquestra juvenil como oboísta. Ficou gripada, não conseguiu tocar – e, de brincadeira, o maestro sugeriu que ela regesse um pouco. A experiência a agradou. “Foi ali que me dei conta de que queria reger.”
E como ela imagina que será sua carreira? “O que imagino que vai acontecer é uma coisa, mas o que quero que aconteça é outra”, ela diz, brincando com o próprio pessimismo. “Eu sou fascinada por ópera e adoraria encontrar um emprego em uma companhia legal, com bons cantores, e me dedicar a isso. Mas, enfim, o importante é ter a chance de fazer música, é isso que eu quero.”
Hilo também teve a trajetória marcada pela ópera, ainda que de modo indireto. Desde cedo acompanhou o Festival Amazonas, que desde o fim dos anos 1990 levou uma série de músicos europeus a Manaus, onde formariam não apenas a orquestra como também uma escola de música. “O festival foi fundamental porque possibilitou, para mim e muitos outros, desenvolver o amor pela música, de se apaixonar”, diz ele, para quem a função do maestro não pode ser apenas musical. “Hoje, um regente precisa ter uma ideologia de trabalho que permita a ele entender o fazer musical de modo mais amplo, levando em consideração sua repercussão social.”
No contato com Marin Alsop ao longo das aulas, os dois ressaltam o modo como ela consegue articular de modo claro suas ideias – e a forma como sabe trabalhar de forma diferente com cada aluno, identificando suas necessidades principais.
Não por acaso. Para a maestrina, afinal, é essa a função de um professor em um contexto como esse, do festival, como explica pouco antes de ver seus alunos subir ao palco. “O objetivo é ajudar o maestro a mostrar para os músicos o que ele quer dizer com determinada peça. É preciso ter um vocabulário para isso. E esse vocabulário é diferente de um músico para outro, tem a ver com personalidade, gestual, linguagem corporal.”
Além de Ruth e Hilo, participaram do curso o chileno Francisco Nuñes (30 anos), o fluminense Thiago Santos (28), a italiana Valentina Peleggi (31) e o mineiro André Brant (28). “Um aspecto do qual gostei muito foi a diversidade dos alunos, pessoas que talvez não se cruzariam e trocariam experiências se não fosse pelo festival.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.