Alegria, descontração e bom humor. São estes alguns dos ingredientes que sempre são encontrados nos shows do músico Altamiro Carrilho. O ?mestre? da flauta esteve em Curitiba no final da semana passada no Teatro da Caixa. Está fazendo show pelo Brasil, comemorando seus 80 anos, que estão longe de serem aparentados, tamanha a vitalidade do músico.
Altamiro é, talvez, o único arranjador musical que transformou a música clássica em chorinho, sem agredir uma nota, ou um compasso da original, pelo contrário, consegue deixar uma Alla Turca de Mozart, ou uma Ária da 4.ª Corda de Bach ainda mais belas, tamanha a sua musicalidade e sensibilidade.
Contou que um dia estava no aeroporto Galeão e ouviu a tão conhecida chamada pelos altofalantes: Atenção senhores passageiros do vôo… Só que antes da mensagem tem um sinal famoso: Lá, Dó, Fá, Sol… e depois a mensagem.
E foi assim que nasceu o chorinho do Galeão. Nosso flautista improvisou uma pauta em um papel qualquer e antes que a inspiração fosse embora, escreveu a música durante o vôo. E ela começa com as notas: Lá, Dó, Fá, Sol.
Em nenhum momento este grande músico derrapa. Enalteceu o Brasil todo tempo: é brasileiríssimo. Lembrou a história de Waldir Azevedo, quando perdeu os dedos em uma cortadeira de jardim, e foram médicos brasileiros que devolveram a mobilidade da sua mão.
Sempre alegre, brincalhão, piadista. Mas Altamiro chorou. Chorou ao lembrar de sua vida antes de se dedicar à música. Era farmacêutico e um dia teve que aplicar uma injeção em uma menina de favela. Lembrou ele: ?Infelizmente sempre teve favela, só que agora tem mais gente?. Mas ao chegar ao local deparou-se com uma garotinha mais do que franzina. Era só pele e osso. Onde aplicar a injeção? Não tinha carne. E teve que ser subcutânea. A criança chorava, lembra, e ele tentava aliviar a dor da criança, espalhando aquele líquido que ficara em alto relevo, tamanha a magreza da criaturinha.
Altamiro chorou e emocionou a platéia ao lembrar, que apesar de nosso País ter tudo para prosperar, ainda tem políticos, governantes e corruptos que impedem o progresso. Mas ao mesmo tempo em que se emocionou ou se revoltou, com muita jovialidade fazia propagando de seus CDs, agora lançamento independente, que estariam à venda no fim do espetáculo. Lembrava que, depois do investimento na Caixa, o melhor é adquirir seus discos, pois por estar com idade avançada, muito em breve seria documento histórico. Os que comprassem a preciosidade, muito em breve teriam fortuna em mãos.
Passava da meia-noite e o músico não demonstrava cansaço, autografou os CDs, conversou com os fãs, brincou, tirou fotos. E assim é o grande mestre da flauta Altamiro Carrilho. Se tem idade avançada ela é de conhecimento, grandiosidade de espírito, jamais físico, pois sua alegria e simpatia conquistam e contagiam até mesmo o mais mal-humorado ser.
Ieda Matias é jornalista