Último dos grandes mestres do choro, Altamiro Carrilho tem uma trajetória que se confunde com a própria história do gênero ao qual dedicou toda a sua vida. Aos 83 anos, 112 discos gravados e mais de 200 composições, o ?gênio da flauta? ganha uma homenagem que recupera a sua importância histórica: um projeto idealizado por Andreas Pavel, cujo pontapé inicial é Poesia do Sopro, uma caixa contendo três cds que traz o registro de dois concertos feito por Altamiro Carrilho e convidados em agosto de 2006, no Teatro Municipal de Niterói, além de uma antologia de gravações históricas realizadas entre 1949 e 1955. Andreas Pavel é um alemão que morou no Brasil nas décadas de 1950 a 1970. Sua ligação com a música popular é antiga e marcante, já que ele fez parte da equipe que fundou a TV Cultura de São Paulo e trabalhou na Abril Cultural, onde editou, entre outros projetos, a clássica série de discos-fascículos Música Popular Brasileira. Numa travessia solitária entre Milão e Salzburgo, ele ouviu pelo rádio do carro uma gravação de Aeroporto do Galeão, com o autor, Carrilho, na flauta.
Ao recordar o sopro que ele tanto admirava nos programas que antecediam o Repórter Esso nos anos 50, o Altamiro Carrilho e sua bandinha, resolveu montar um show para que ele pudesse se apresentar na Europa. A história acabou ganhando proporções maiores do que o produtor esperava.
O show de lançamento de Poesia do sopro será nesta terça-feira, no Vivo Rio, com apresentação de Haroldo Costa e direção de João Carlos Carino. O show reunirá amigos e admiradores, como o sobrinho e violonista Maurício Carrilho, Carlos Malta, Cristóvão Bastos, Déo Rian, Orquestra Furiosa, Soraya Ravenle, Alfredo del-Penho, Maurício Einhorn, Tira Poeira, Nicolas Krassik, Silvério Pontes e Zé da Velha.
?Isso é muito gratificante. A gente sente que não plantou uma semente em vão. Vejo que tudo o que fiz resultou em alguma coisa. É importante também para a auto-estima. Fico feliz quando vejo algum aluno meu tocando bem?, diz Altamiro, que hoje aposta suas fichas em um garoto de 13 anos, Lucas Brasil, levado pelas mãos do mestre para estudar na Escola Portátil de Música. ?Ele já está na turma da primeira flauta da escola?, diz.
O projeto inclui ainda A fala da flauta, quatro dvds que serão lançados em outubro trazendo seis horas de documentário, apresentações, entrevistas, tapes antigos, além do registro dos concertos de Niterói. Como encerramento da homenagem, um longa-metragem documental, Canarinho teimoso, com direção de Anna Sutor.