Gilberto Braga definitivamente parou no tempo. É só assistir a alguns minutos de Paraíso tropical para perceber que as falhas no texto do autor se repetem a cada trabalho. Do empresário tubarão de Tony Ramos, idêntico ao de Tarcísio Meira em Pátria minha, de 1994, ao Daniel, de Fábio Assunção, o autor peca pela falta de naturalidade. O mocinho incomoda com tantas qualidades positivas – ao melhor estilo Maria Clara Diniz, de Celebridade. É difícil achar entre os personagens centrais algum que não tenha suas cenas limitadas à função que exerce na trama. Como o próprio Daniel, que não se cansa de dar segundas chances aos funcionários. Nem Maria Clara perdoava assim…
Mesmo o vilão Olavo, bem representado pelo ator Wagner Moura, exagera na maldade. Gilberto utiliza planos rocambolescos para que o parente rejeitado de Antenor tente derrubar o filho do caseiro. Olavo perde sempre, mas suas estratégias não mudam. É possível que, se apenas fizesse um bom trabalho, levasse a melhor em algum momento. Afinal, só o excessivo bom-mocismo de Daniel já seria suficiente para que o rapaz tropeçasse sozinho. Usar o caixa da empresa para fazer caridade – sem isenção no imposto de renda – não é o forte de empresários com o perfil soberano de Antenor. É o que o herói faz ao adiar a demissão de funcionários do grupo hoteleiro no qual trabalha, já afastados de suas funções antes mesmo de demitidos. Ele e Cássio, de Marcello Antony, deveriam até ser amigos na trama. Dar R$ 25 mil de presente para uma mulher com quem não tem o interesse de um compromisso sério parece normal no ?mundo encantado? criado pelo autor.
Depois de um mês de exibição da novela, as irmãs gêmeas Paula e Taís ainda não se conhecem. O encontro das rivais poderia esquentar a novela – que amarga a média de 38 pontos de audiência e 58% de participação -, mas até agora o que se vê é uma interpretação duplamente cansativa de Alessandra Negrini. A atriz precisa encontrar o tom certo não apenas para uma, mas para as duas personagens que interpreta na história. Já a Bebel, de Camila Pitanga, uma das melhores apostas dos primeiros capítulos, ficou completamente apagada depois que se mudou para o Rio. Agora, a moça só aparece nas cenas em que se prostitui nas ruas ou é cobrada pelo cafetão Jáder, de Chico Diaz.
Mas nem tudo está perdido. A direção acerta nas cenas externas e no ritmo ágil que vem mantendo. Outro ponto forte da novela é a trilha sonora. Cabide, na voz de Mart?nália, dá um charme especial tanto às cenas do trambiqueiro Ivan, de Bruno Gagliasso, quanto às da prostituta Bebel, de Camila Pitanga. Outro acerto foi a inserção de É com esse que eu vou, de Elis Regina, que marca as mudanças de núcleos na trama. Até a choradeira de Paula e Daniel fica menos desgastante ao som de Olha, cantada por Chico Buarque.